Crítica sobre o filme "Quando as Mulheres Esperam":

Eron Duarte Fagundes
Quando as Mulheres Esperam Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 12/01/2011
O rigor da narrativa cinematográfica do sueco Ingmar Bergman está muito bem ajustado na execução de pontos de vista em Quando as mulheres esperam (Kvinnors västan; 1952). Calcado um pouco no modelo imbatível de Rashomon (1950), do japonês Akira Kurosawa, onde os mesmos fatos são recontados por diferentes olhares e percepções, a realização de Bergman pretende pôr na tela e em xeque os diversos balançares emocionais de algumas mulheres sobre os quais vai debruçar-se ao longo de pouco mais de uma hora e quarenta minutos de narrativa; o rigor de Bergman ainda não chegara à austeridade que lhe viria especialmente a partir de O sétimo selo (1956) e por isso o casamento da filmagem seca e às vezes sombria do cineasta com uma delicadeza romântica se dá sem tropeços.

Que ocorre em cena? Bergman reúne quatro mulheres casadas com quatro irmãos Libelius; como os maridos estão na capital, as cunhadas, para preencher os vazios dos dias no campo, trocam confidências sobre seus relacionamentos, aparecendo os episódios contados em agradáveis flashbacks armados por Bergman. Uma fala da experiência dolorosa e dionisíaca de um parto, outra fala das revelações sobre traições que teve com o marido na noite em que ambos ficaram presos num elevador que enguiçou por falta de energia elétrica. E por aí vai. Como é habitual, Bergman filma com intensa sensibilidade e profundidade o interior dos universos femininos; é como se Bergman desse vazão àquilo que há de mulher em seu cromossoma: as coisas nunca soam falsas e o erotismo que exala do celulóide é de fêmea mesmo.

Segundo o próprio Bergman anota em sua autobiografia, as mulheres de seus filmes partem de mulheres verdadeiras com as quais se relacionou. Por exemplo, a Karin Lobelius de Quando as mulheres esperam tem muito da jornalista Gun Hagberg, uma das muitas mulheres que passaram pela vida de Bergman. Quem vive Karin é Eva Dahlbeck, atriz que, segundo o realizador, foi uma intérprete da personalidade de Gun. “As duas, em comum, conseguiram materializar meus textos, não raro difusos, e com isso, de modo que eu próprio nunca imaginara, dar voz à invencível natureza feminina.†Assim, uma obra tão sutil como Quando as mulheres esperam vai e vem pela vida e pelo cinema de Bergman. (Eron Fagundes)