Crítica sobre o filme "Nenhuma Mulher Vale Tanto":

Eron Duarte Fagundes
Nenhuma Mulher Vale Tanto Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 12/01/2011
O crítico gaúcho, radicado em São Paulo, Luiz Carlos Merten evoca sua visão nos anos 60 de Nenhuma mulher vale tanto (The iron mistress; 1952), do norte-americano Gordon Douglas, para lembrar seu fascínio com o conceito do realizador americano Nicholas Ray segundo o qual “o cinema é a melodia do olhar†e o encanto com que teria aplicado ao filme de Douglas o conceito melódico ao verificar que a troca de olhares (personagens, câmara, espectador) na narrativa se inseriria no próprio fluxo da montagem. Quando Merten escreveu as anotações aludidas em seu blog, não revira o filme (refere que não encontrava cópia em dvd em lugar algum do mundo) e dizia o que dizia apelando para lembranças de quase cinco décadas. Em Merten a revisão sobreviveria ao prestígio das lembranças? O que ocorre agora a este observador, contemplando o filme em dvd neste começo da segunda década do terceiro milênio (ou o segundo século do cinema), é que Nenhuma mulher vale tanto nada tem de melódico; o fluxo da montagem é insosso, truncado, o tempo lhe fez muito mal, o alinhavado de sequências parece ser cuspido como por alguém que está tuberculoso ou ao menos com algum problema de pulmão.

Parodiando o título em português do filme de Douglas, pode-se dizer que a coisa hoje não vale tanto assim. É algo que se vê com um olho na história do cinema, mas que se descarta facilmente. É um faroeste de segunda mão, filmado com os lugares-comuns do cinema: homens (um galã no centro) brigam no ringue da vida visando ao amor duma mulher que no fundo nem está para nenhum deles, só quer aparecer (se diria hoje) na pequena mídia provinciana em que vive (fama e conceito social é do que ela gosta mais do que de homens). Duelos com espadas e facas, corridas de cavalos, amores à espreita, tudo está com muita facilidade em Nenhuma mulher vale tanto. O que em determinado momento parece valer para o protagonista é a “amante férrea†do título original, uma bela faca para duelo que um fabricante de armas brancas lhe faz especialmente com restos duma estrela cadente; mas a faca, a amante férrea, tem sua correspondente humana na personagem da pequeno-burguesa Judalon de Bornay, uma arrivista por quem os homens duelam e morrem. O tema duma mulher que devassa um universo masculino tem uma dimensão trágica mais densa em Caçada sádica (1971), do também americano Don Medford.

Demais, os intérpretes centrais de Nenhuma mulher vale tanto se desmoronam na estrutura teleteatral da narrativa. Alan Ladd parece um babaca cênico e a “loira do Merten†Virginia Mayo hoje não seduziria mais ninguém. Falta-lhes capacidade de convencimento. (Eron Fagundes)