Crítica sobre o filme "Último Mestre do Ar, O":

Wally Soares
Último Mestre do Ar, O Por Wally Soares
| Data: 20/01/2011
Surpresa para muitos quando anunciado como novo projeto do controverso M. Night Shyamalan, O Último Mestre do Ar – ou Avatar, como seria chamado caso certo pequeno filme não tivesse registrado os direitos para o nome – é o primeiro longa-metragem do diretor/roteirista não baseado em um texto seu. É também o pior filme do cineasta até então, mas ainda vou chegar lá. São poucos os que, cinco filmes depois da consagrada obra-prima do diretor, O Sexto Sentido, mantiveram-se felizes com o trabalho do cineasta. Até os amantes mais fiéis ofereceram certa resistência quando este abaixou o nível no (para mim, razoável), Fim dos Tempos. Não tinha como negar que a carreira do cineasta se revelou um declínio lamentável. É com O Último Mestre do Ar, porém, que Shyamalan assina seu atestado de óbito. Até então, ele possuía seus defensores e aqueles que acreditavam no cinema autoral que realizava. Aqui, porém, quase não há vestígios daquele cineasta primoroso de Corpo Fechado e A Vila.

A razão de Shyamalan ter abordado este filme, por outro lado, é até bem óbvia. Além de ser fã assumido do material original, Shyamalan sempre se declarou influenciado por Steven Spielberg – e era apenas questão de tempo até que este resolvesse brincar de blockbuster. Péssima decisão. O Último Mestre do Ar vai encher os olhos com os efeitos especiais burocráticos (mas pouco inspirados) e provavelmente conquistar o respeito dos fãs do desenho-animado no qual é baseado. Não fará mais do que isso, certamente. É uma aventura de fantasia fria e sem uma linha de raciocínio plausível. A história é uma bagunça e os personagens extremamente indefinidos. O difícil neste caso é se importar pelo que está acontecendo na tela.

O protagonista da história – o tal Avatar e último mestre do ar – é Aang, o único sucessor de uma longa linha de Avatares cujo retorno atiça a tensão entre as quatro nações – água, fogo, ar, terra. Mais especificamente, a do fogo, grande vilã que acredita em supremacia, explorando os demais. Aang, como Avatar, possui a habilidade de se tornar mestre na arte de todas as nações, manipulando todos os elementos – não só o ar. Ele precisa, com ajuda de alguns amigos, se aprimorar neste exercício para sobreviver e evitar que as nações sejam dominadas pela do fogo.

Apesar da fragilidade do enredo, este poderia ter funcionado caso o roteiro soubesse construir seus personagens de forma envolvente e a trama fosse delineada com maior apuro. Não só isso, mas Shyamalan não conduz com a energia necessária, quase sempre apenas interessado no que o visual lhe proporcionaria. Pois a estética chega a um nível tão artificial em momentos que a audiência é automaticamente desligada da história, perdendo interesse. Nem tudo está a perder – há boas cenas ao longo da aventura, incluindo um sacrifício e a sequência visualmente incrível que se segue – mas é muito pouco. A trilha excelente do colaborador habitual de Shyamalan, James Newton Howard, dá a sensação de que estamos assistindo algo mágico e épico, mas não poderia ser mais ilusória. É tudo espetáculo e zero emoção neste filme que não será logo esquecido – já foi. (Wally Soares)