Crítica sobre o filme "Halloween: A Noite do Terror":

Jorge Saldanha
Halloween: A Noite do Terror Por Jorge Saldanha
| Data: 23/01/2011
HALLOWEEN (1978) é um dos longas independentes de maior sucesso da história do cinema, e lançou John Carpenter como um dos maiores diretores de filmes de horror e ficção científica. Além disso, seu vilão Michael Myers abriu o caminho para toda uma nova geração de memoráveis assassinos que inclui Jason Voorhees (SEXTA-FEIRA 13), Freddy Krueger (A HORA DO PESADELO) e até mesmo o endiabrado boneco Chucky (BRINQUEDO ASSASSINO). Com um criativo roteiro filmado sob um orçamento modesto mas muito bem empregado, utilizando o mínimo de efeitos especiais e um elenco onde o único nome conhecido era Donald Pleasence, Carpenter levou ao espectador um conto de horror repleto de referências a Alfred Hitchcock (Jamie Lee Curtis, revelada aqui, é filha de Janeth Leigh, estrela do clássico PSICOSE), empregando uma série de situações que acabaram tornando-se clichê nos filmes do gênero.

A grande diferença entre HALLOWEEN e muito do que veio depois está na forma magistralmente precisa com que Carpenter constrói sua história: desde a sequência inicial, onde sob o ponto de vista do garoto Myers, o vemos esfaquear várias vezes sua irmã, passando anos depois por sua fuga do manicômio, pela longa introdução e desenvolvimento da personagem de Laurie até chegarmos à noite de Halloween, o início das mortes e, finalmente, ao confronto do monstro com sua vítima, o diretor demonstra todo o seu talento ao empregar as tomadas de câmera, os cenários e as locações para criar um permanente senso de terror e ameaça – mesmo nas cenas à luz do dia, sabemos que Myers está ali, à espreita.

O filme hoje pode não impressionar tanto, já que posteriormente foi muito imitado, não é particularmente violento e nem tem o ritmo das produções atuais. Contudo, ainda se destaca como exercício de suspense e exemplo da diferença que faz um criador no auge de sua perícia atrás das câmeras. Meticuloso, Carpenter encarregou-se também de compor a memorável trilha sonora eletrônica, empregada no filme de forma similar à clássica partitura de Bernard Herrmann para PSICOSE. Os temas, repetitivos e crus, refletem no espectador toda a melancolia de Laurie e a determinação assassina do aparentemente imortal Myers. Aliás, uma das grandes sacadas de Carpenter foi deixar subentendida a natureza sobrenatural do assassino, com o rosto quase sempre coberto por uma máscara de borracha que imita os traços de William Shatner (o capitão Kirk de JORNADA NAS ESTRELAS). Ao final do filme Myers, personificação do lendário Bicho-Papão e o Mal encarnado, entrou para a história do cinema e garantiu seu lugar em várias continuações e refilmagens. Nada, contudo, capaz de fazer sombra a uma obra-prima que, em 1978, mudou para sempre o cinema de horror.