Por Jorge Saldanha
| Data: 29/01/2011
TROPA DE ELITE (2007), antes mesmo de ter entrado em cartaz nos cinemas de todo o paÃs, graças à pirataria já fazia uma carreira de sucesso nas bancas de camelôs, e também criava polêmicas. As acusações de que o filme era fascista por mostrar um esquadrão especial da polÃcia militar do Rio usando métodos violentos contra o tráfico nas favelas, eram simplórias. Afinal, como disse o próprio diretor José Padilha, o que está errado é a mensagem, e não o mensageiro. Não vou me aprofundar muito sobre isso, deixo a tarefa para aqueles que adoram abordar tais assuntos sob um ponto de vista “sócio-polÃtico-cultural-esotéricoâ€.
Só acho que entre fazer a apologia do “olho por olho†e simplesmente mostrar a realidade das forças policiais do paÃs, atingidas pela corrupção e a falta de mÃnimos recursos para agir, que têm de enfrentar o que hoje é uma guerra contra uma verdadeira máfia muito bem armada e organizada, há uma grande diferença. Se o público aplaude o BOPE quando tortura e mata, a culpa é de quem? Acho que não preciso dizer, vocês já sabem a resposta.
O que realmente me interessa é apontar o fato de que, com TROPA DE ELITE, finalmente e com um grande atraso, tivemos no cinema um produto nacional bem acabado tecnicamente, que mesmo saindo fora do padrão “Xuxa/Trapalhões/dramalhão/filme sobre a ditadura†teve poder de fogo para ser um verdadeiro campeão de bilheterias e méritos para ser bem recebido pela crÃtica – tanto que ganhou vários prêmios internacionais, sendo o principal o Urso de Ouro de melhor filme no festival de Berlim. O diretor José Padilha mostrou o caminho para que nossos cineastas fizessem um tipo de filme que nosso público quer ver, sem precisar buscar sempre produções internacionais para isso.
Porque não se iludam, analisado tematicamente, TROPA DE ELITE não tem nada muito original. Afinal, agentes da lei violentos e com problemas pessoais já vimos inúmeras vezes em filmes e séries de TV norte-americanos. Já em 1971, o diretor Don Siegel colocou nas telas o primeiro filme da série Dirty Harry (no Brasil, PERSEGUIDOR IMPLACÃVEL), no qual o inspetor da polÃcia de São Francisco Harry Callahan (Clint Eastwood) usava métodos não-ortodoxos para combater o crime. Traduzindo: violência e tortura. Como TROPA DE ELITE, o filme foi muito criticado, igualmente acusado de ser fascista e de apregoar a violência policial.
O charme de TROPA DE ELITE foi transplantar com competência de sobra essa tradição cinematográfica para a realidade nacional, num longa-metragem de alta qualidade técnica (sou da época em que entender os diálogos num filme brasileiro era uma missão quase impossÃvel), com cenas de ação impecavelmente realizadas e com um elenco de primeira. Wagner Moura, com seus bordões memoráveis, fez do seu Capitão Nascimento um personagem já clássico do nosso cinema, esbanjando ironia e brutalidade fÃsica e psicológica, inclusive nas já antológicas sequências do treinamento dos candidatos ao BOPE.
TROPA DE ELITE, mesmo sem deixar de lado o “engajamento†que, conforme convencionado pelos intelectualóides tupiniquins, todo filme brasileiro “sério†deve conter, foi um trabalho impecável, capaz de atender à grande parcela do público também interessada em assistir a um bem feito filme comercial ou de ação – e tanto faz que, no caso, os métodos utilizados por mocinhos e bandidos não sejam muito diferentes. TROPA DE ELITE fez história, e provavelmente sem ele não terÃamos produções de nÃvel hollywoodiano como NOSSO LAR (2010). E acho que, novamente, não preciso dizer mais nada...