Crítica sobre o filme "Comer Rezar Amar":

Rubens Ewald Filho
Comer Rezar Amar Por Rubens Ewald Filho
| Data: 26/02/2011

É bom esclarecer que se trata de um “filme de menina” e menino não deve nem pensar em entrar (no cinema). A não ser que seja guia turístico ansioso por dar uma volta ao mundo de maneira econômica. Fora isso, é uma decepcionante versão do best-seller autobiográfico de Elizabeth Gilbert: superficial, bobinho, cansativo (aparenta ser ainda mais longo do que é) e foi bem mal de bilheteria nos EUA (custou cerca de U$ 60 milhões e não rendeu mais do que U$ 77 milhões!).

Triste maneira de comemorar os vinte anos de estrelato de Julia Roberts (desde Uma Linda Mulher), que atravessa o filme sem deixar marca. Sorri muito, faz muito turismo, mas não tem nada a dizer ou a acrescentar. O mesmo se pode dizer da direção obtusa de Ryan Murphy, o criador das séries de Glee e Nip/Tuck.

De fato, o filme faz lembrar muito aquelas produções americanas dos anos 60 como Candelabro Italiano (Rome Aventure), em que jovens americanas iam para a Europa para namorar um pouco, visitar monumentos e alargar seus horizontes. Julia faz Liz Gilbert, uma escritora de Nova York que filosofa muito se sentindo infeliz e incompreendida, quando se separa do marido (Crudup), sem muita razão ou explicação, e também de um namorado ator (Franco). Sentindo-se vazia, ela parte primeiramente para a Itália, no que acaba sendo a parte mais interessante do filme, onde mais uma vez (como se a novela Passione não estivesse no ar!), descobrimos os prazeres da boa comida, dos bons vinhos e do “dolce far niente” em três países cujo nome começam com I: Itália, Índia e Indonésia.

Esta primeira parte não passa de um filme turístico e culinário, mas ao menos não tem maiores pretensões. Não satisfeita, ela parte para outra etapa, vai para a Índia, onde se perde o senso de humor e observação, enquanto ela aperfeiçoa os prazeres da meditação e faz amizade com um senhor americano (feito por Richard Jenkins, recém-indicado ao Oscar®).

Sua iluminação espiritual em Bali se reduz a consultar uma espécie de guru que lê sua mão e, finalmente, a faz aceitar o amor de um bom “vivant” brasileiro (o que justifica a aparição na trilha musical de Bebel Gilberto, cantando por sinal a mesma música que esteve em Closer, também com Julia). Quem faz o brasileiro é o espanhol Javier Bardem, ótimo ator quando deseja e que, apesar de ter morado no Brasil durante um tempo, nem se dá ao trabalho de tirar um pouco do sotaque quando tem que exercitar algumas palavras em português (a mais engraçada é o conceito brasileiro de falsa magra).

Adivinhe qual é o problema da heroína? Tem que aprender a amar e se libertar!!! É uma baboseira, feita de situações tolas e banais (ela não tem um problema concreto em todo o filme), sem qualquer observação mais pertinente (logicamente, não li o livro nem pretendo fazê-lo, mas tudo leva a crer que só pode ser melhor do que esse filmeco).

Tem gente mesmo que acha o filme reacionário (a heroína só pode ser feliz no altar, não na vida profissional e, só com um homem ao lado, existe esperança). São problemas abstratos que não chegam a constituir um drama ou uma comédia romântica, nem um bom veículo para Julia Roberts. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de outubro de 2010. Rubens mantém um blog exclusivo no portal R7)