Crítica sobre o filme "Atração Perigosa":

Wally Soares
Atração Perigosa Por Wally Soares
| Data: 10/03/2011

Após provar que é muito mais talentoso por trás das câmeras que a frente, no ótimo Medo da Verdade, Ben Affleck parece finalmente ter encontrado sua vocação – ao menos é a sensação que seu mais novo filme nos deixa. Em 2006, com Hollywoodland, havia chego em outro nível como ator, prometendo uma renovada na carreira. Mas no ano seguinte estreou na direção e, ao que parece, é o caminho certo a ser seguido. A verve que traz para Atração Perigosa na direção, explorando vertigem consolidada por montagem excelente, é digna de diretores que estão há muito mais tempo na indústria. Desta vez ele se arrisca também no papel de protagonista, mas não faz mal e lidera um elenco com atuações excepcionais.

Voltando a Boston, cidade onde foi criado – e que deu tão bem para ele em Gênio Indomável e Medo da Verdade – Affleck adapta o livro Prince of Thieves de Chuck Hogan com a ajuda de Peter Craig e de seu colaborador Aaron Stockhard. Originalmente entitulado The Town, nome que dá mais ênfase à cidade em si, por sua vez conhecida por ser a capital de assalto a bancos dos Estados Unidos, o filme é uma obra policial consistente e efetiva. Investigando os dois lados da moeda ao retratar os esforços do ladrão (Ben Affleck) e do policial (Jon Hamm), o longa-metragem se beneficia por não separar seus personagens em heróis ou vilões, ainda que tome rumos lamentavelmente previsíveis na maior parte dos dilemas. O destaque, sem dúvida alguma, fica por conta do elo entre o ladrão e o policial (Rebecca Hall) e do arquétipo do personagem do Affleck, interpretado por Jeremy Renner em atuação indicada ao Oscar®.

A segurança alcançada por Affleck na condução é a verdadeira estrela do filme. Muito conciso em relação ao que deseja mostrar e, como já dito, trabalhando muito bem com uma edição das melhores, almeja um resultado que é pura bravura em termos de simples entretenimento e pura satisfação. É muito fácil se envolver com o enredo e se deixar levar pela narrativa. Não delonga até que os personagens soem extremamente reais e os dilemas comecem a surtir efeito. Méritos estes que se devem mais ao trabalho de edição e direção que ao roteiro em si, que indubitavelmente deixa muito a desejar. Isso se deve, talvez, ao fato do filme ter tido uma duração original de quatro horas. Versão obviamente recusada pelos produtores. E reduzir a metragem para a metade não deve ter sido tarefa fácil. A edição fez um trabalho feliz, mas as consequências no texto foram drásticas. O próprio desfecho, que fugiu do original literário, é bastante esquemático e cliché.

É do tipo de filme, porém, em que as deficiências do roteiro são constantemente balanceadas e maquiadas por outros fatores. Sejam os já citados de direção e edição, a fotografia exemplar ou principalmente o elenco, que entrega veracidade mesmo quando os personagens estão em falta. Destaques ficam por conta de Rebecca Hall, maravilhosa, e de Jeremy Renner e Jon Hamm, ambos em desempenhos ótimos. Há também o sempre ótimo Chris Cooper e um Pete Postlethwaite muito efetivo, em fim de carreira. A falha é toda de Blake Lively, na qual Affleck apostou tanto e que se revelou completamente exagerada e desequilibrada.

Deficiências a parte, Atração Perigosa é um exemplar do gênero policial que deve permanecer por um bom tempo sob certo destaque, tamanha sua eficiência como tal. Não é Michael Mann ou Martin Scorsese, mas não estamos exigindo tanto. Affleck está no caminho e seu talento como cineasta já é incontestável. Que ele saiba desfrutar isso, continue voltando sempre a Boston (seu amuleto da sorte) e, quem sabe, chame Matt Damon para co-escrever seu próximo projeto. Um roteiro original seria bom.