Crítica sobre o filme "Atividade Paranormal 2":

Wally Soares
Atividade Paranormal 2 Por Wally Soares
| Data: 13/03/2011

É chover no molhado falar sobre o fenômeno do Atividade Paranormal original. Quer você goste ou não do filme, foi um sucesso de bilheteria sem igual (custou US$15 mil e rendeu quase US$200 milhões, mundialmente) e mostrou que a arte da câmera subjetiva ainda é muito eficiente quando um cineasta sabe explorar os conceitos de terror e as vulnerabilidades dos personagens. Tenso e de momentos verdadeiros de puro terror, apostou no implícito e, portanto, recapturou aquela sensação de medo do desconhecido tão bem articulada no irmão mais velho A Bruxa de Blair. Imperfeito, sim, mas funcionava muito bem. Já esta sequência, muito mais comercial e claramente preocupada com outras coisas além do entretenimento, não se sai tão bem. Ainda assim, é possível encontrar aqui muitos dos méritos do original (caso você os tenha percebido) e, por mais falho que seja como Cinema, consegue arrepiar de tal forma que envergonha filmes do gênero muito mais polidos e sofisticados.

Longe de ser uma sequência solta e gratuita, Atividade Paranormal 2 se esforça (até demais) para fazer valer sua existência, realizando um crossover com o filme original. Se no primeiro filme o alvo da assombração era o casal Katie e Micah, aqui descobrimos que antes do tal demônio acabar com a vida dos pombinhos, havia atacado a família da irmã de Katie, Kristi (Sprague Grayden), que por sua vez acaba de ter um filho. Kristi mora em casa de amplo espaço com o marido Daniel (Brian Boland) e sua filha Ali (Molly Ephraim). Quando a casa é invadida e tem seus móveis destruídos, o casal decide instalar várias câmeras nos cômodos Assim, as ocorrências estranhas são registradas – e reveladas para a audiência. Lembrando que a sequência mantém a essência do original ao se ater à câmera subjetiva. Apenas vemos aqui o que é registrado pelas câmeras de vigilância e pela câmera pessoal da família.

Repetindo a fórmula do original – o que por si só desgasta o conceito e o deixa muito menos provocativo – a obra inicia-se com um agradecimento à família pelo uso das imagens e, a partir da instalação das câmeras, começa a fazer uma contagem das noites assombradas. No entanto (como o primeiro) as coisas demoram a engrenar. No início é puramente sugestão e toques sutis de terror. Isso permanece por um bom tempo, construindo não só tensão, mas as relações familiares. Algo que funciona aqui, mas em parte. Como são câmeras de vigilância, não há aquele clima intimista e cru adotado pelo original, que nos aproximava do casal de um jeito sobrenatural no nível de realismo. No original, tínhamos também não-atores no jogo, o que deixava tudo mais interessante. Aqui, são profissionais, as câmeras estão quase sempre distantes e o desenvolvimento dos personagens não funciona tão bem. Consequentemente, a tensão não culmina da mesma forma.

Se há uma clara evolução na sequência, porém, é no puro choque das imagens, que se intensificaram. Se no original a coisa começa a ficar feia faltando poucos minutos para o final, aqui começa antes e não releva a situação da audiência até o término. Com mais pessoas em jogo (quatro, incluindo um bebê – o que deixa tudo muito mais perigoso), o senso de medo é ainda mais palpável. Ou ao menos deveria ser. Ainda que fisicamente seja um longa-metragem mais efetivo e certamente amedrontador, não há muito do senso de puro terror enaltecido no anterior. Muitas comparações com o original, não é? Inevitável. Da mesma forma que era inevitável que existisse uma sequência após o sucesso gigantesco e também da mesma forma que a sequência em si dilui o exercício aterrorizante (e bem cinematográfico) do primeiro. É uma tendência que apenas se prova com o tempo. Com o terceiro capítulo já anunciado, já é previsto uma ainda maior queda em qualidade.

Dirigido por Tod Williams (do bom Provocação, de 2004) e escrito a três mãos – em sua maioria inexperientes – Atividade Paranormal 2, ao contrário do original, é bem sucedido no terror, mas falha como Cinema. O crossover não ocorre da forma mais natural e no momento chave do longa-metragem onde os incidentes dos dois filmes se mesclam, não sentimos uma veracidade necessária dos fatos. É quando o filme deixa seu estado simples (e eficiente) de mockumentary para se tornar – explicitamente – ficção. Quando nos damos conta de que, “ah, estamos vendo um filme”. Sensação esta que não se consolidava em meio ao realismo constantemente palpável do antecessor. Retomando o pensamento, é possível que encontrem sim muitos agrados no filme (que realmente assombra), ainda que este permaneça claramente inferior ao original. Funcionará principalmente para aqueles que caíram na graça do primeiro e especialmente para aqueles que, acima de qualquer coisa, acreditam.