Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 21/03/2011
Suave é a noite (Tender is the night; 1961) foi o último filme rodado pelo norte-americano Henry King; nascido na penúltima década do século XIX, King ainda viveria mais vinte e um anos depois de seu último trabalho no cinema. Suave é a noite é a transposição cinematográfica um tanto quanto amorfa e mÃope de um dos mais belos romances do século XX, escrito pelo americano Francis Scott Fitzgerald; como outro cineasta americano, Vincente Minnelli, King parece ter vivido seus últimos anos cinematográficos valendo-se duma esclerose anacrônica de seu estilo de filmar.
Hollywoodianamente, Suave é a noite pesca o ramerrão atoleimado dos entrechos (e diálogos) da trama de Fitgerald e despeja na tela de maneira constrangedoramente ingênua; deve ter sido escarnecido naquele inÃcio da década de 60, em que as alegorias morais do italiano Federico Fellini, os avanços formais do franco-suÃço Jean-Luc Godard e as inquietações temporais do francês Alain Resnais indicavam outros caminhos para o cinema. Suave é a noite, o filme de King, reduz o notável retrato de época de Fitzgerald a uma historieta de amor recheada de sofisticações vazias e alguns apontamentos psicanalÃticos espúrios. É como se a acidez (lÃrica, é verdade, mas ainda ácida) do olhar de Fitzgerald desaparecesse de cena e o filme de King incorporasse a futilidade dos americanos ricos da Riviera para dar à narrativa cinematográfica aspectos ociosos e desnecessários, um oco esnobe.
Resta apreciar alguns registros interpretativos que o tempo levou. Jennifer Jones como Nicole está, desde a voz, convenientemente dengosa. Jason Robards como Dick tem precisão em sua melancolia. Joan Fontaine como a babá de Nicole ilustra corretamente o comportamento de sua classe. E Jill St. John como Rosemary Hoyt, pouco exigida, desliza facilmente pelo quadro. (Eron Fagundes)