Crítica sobre o filme "Senna":

Rubens Ewald Filho
Senna Por Rubens Ewald Filho
| Data: 04/04/2011
Tenho um problema quando perco um ídolo. No caso de Elis Regina, que além de tudo era amiga, passei anos sem conseguir ouvir um disco dela, ou rever um videotape guardado. Isso só faria aumentar a dor e me deixar mais triste e saudoso. Não sei se as pessoas terão a mesma reação ao ver este primeiro documentário feito sobre a vida de outro ídolo brasileiro, Ayrton Senna (1960-1994). Pelo menos por duas vezes, fiquei com lágrimas nos olhos, na sua vitória sofrida no Grande Prêmio Brasil e, logicamente, ao final. Além de um contínuo aperto no coração. E olha que eu não sou ligado em corridas de Fórmula 1, nem nunca vi ou encontrei Ayrton pessoalmente.

Mas, como espectador isento, ver este documentário foi muito ilustrativo. Tem material inédito, com as reuniões dos pilotos, onde ele enfrentava o presidente que era seu inimigo e, por uma vez, chegou a sair da sala. Demonstrou que sua história poderia realmente render um interessante e dramático filme biográfico com atores (como já houve projeto), que talvez tornasse menos dolorido ver reproduzida toda sua carreira, glórias e triste fim. Ao conceber um documentário há muitos caminhos que se podem tomar. Aqui optaram por não ter um narrador e não captar nenhuma nova imagem, tudo é feito a partir de material pré-existente, mesmo o depoimento da irmã é apenas ouvido e nunca vemos seu rosto (em captação nova e atual). O mesmo se pode dizer dos comentários de Reginaldo Leme, que junto com um colega britânico, vai informando e pontilhando a narrativa.

É verdade que eles tiveram acesso a um excelente material, com certeza muita coisa da Rede Globo, tudo das transmissões das corridas e também alguns vídeos caseiros. Os romances do piloto foram tratados com discrição, mas estão lá Xuxa (inclusive no programa em que ela o entrevista e lhe deseja felizes anos) e Adriane Galisteu. Como desconhecia alguns detalhes, assisti absorvido a todo o drama da rivalidade entre ele e Alain Prost, as intrigas de bastidores, sempre o essencial de cada momento de sua carreira.

Com o que aparece das palavras e intervenções de Senna, o documentário consegue construir uma figura bastante humana, longe da perfeição, mas determinado, ambicioso, jovem (não há detalhes sobre a infância, pouca coisa de sua casa ou família, ou formação, pois o início já remete à competição de kart no exterior). Achei que essas possíveis intervenções no ardor da batalha só contribuem para tornar o filme mais tocante, mais próximo da gente. Curiosamente, na primeira impressão, só a trilha musical do brasileiro Antonio Pinto me convenceu menos (aquela música, que fala de Copacabana fora de contexto, me grilou). Talvez quisesse algo mais brasileiro.

Mas é só para ser chato. Não sei se existe público para esse tipo de produto, mas é um documentário digno, informativo e que só aumenta a lenda de Senna. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos em 12 de novembro de 2010. Rubens tem um blog exclusivo no portal R7)