Com a estreia simultânea com os Estados Unidos, os produtores Walden Midia e Fox estão tentando resolver um impasse: como continuar uma série quando o segundo capítulo fracassou e dá a impressão de que o público se desinteressou? Esta é a missão deste terceiro capítulo de As Crônicas de Nárnia, baseada nas novelas de C.S. Lewis. Parece que o primeiro filme rendeu US$ 745 milhões (mundial), porque conseguiu também atrair o público conservador, os cristãos (porque os livros originais tinham esse sabor de fábula cristã, que atraiu o que é chamado em Hollywood de público de fé).
Já o segundo capítulo, que eu achei, por sinal, melhor e mais movimentado, com muitas batalhas, tentou atrair o público adolescente e perdeu a bilheteria (arrecadou US$ 420 milhões, o que é pouco para um filme que custou US$ 350 milhões para ser feito, incluindo o marketing). Foi assim que a Disney saiu de campo, mas a Walden resolveu insistir. Ou seja, se este não funcionar, não teremos as outras quatro continuações da série de livros. Como este foi um ano de fracassos para a Fox (que é a distribuidora, ela errou com Esquadrão Classe A, Marmaduke, Encontro Explosivo, e a Walden com Ramona e Beezus que nem veio ao Brasil ainda).
Aproveitando o diretor inglês Apted (que fez até James Bond, o Mundo Não é o Bastante), o resultado é uma mistura dos dois alvos: volta a ser uma história religiosa com citações evidentes da Santa Ceia e Aslam, Cristo Leão, mas sem deixar de ser uma aventura cheia de ação lembrando até mesmo Piratas do Caribe. E, antes que eu me esqueça, vem em cópia em 3D apenas para aumentar seu valor comercial, sem acrescentar nada esteticamente.
Fiquei na dúvida vendo o filme, mas logo me corrigiram: não foi a adaptação, são os próprios livros que vão eliminando os personagens quando eles se tornam mais adultos, ou mesmo adolescentes, assim a dupla de irmãos mais velhos aparece rapidamente numa cena de delírio (um estaria em férias, outro fazendo vestibular).
Mesmo as estrelas deste capítulo, Lucy (Georgie Henley) e Skandar Keynes (Edmund), se despedem nesta aventura, e nas próximas, se houver, o papel principal ficará com o primo deles, Will Poulter (de O Filho de Rambow), que interpreta Eustaquio, um garoto metido e bobo, que também é o narrador da história e que, naturalmente, vai mudando com a passagem dos fatos, chegando mesmo a ser transformado em dragão. Para não falar de Aslan (voz sempre de Liam Neeson) e Reepicheep, o rato (voz de Simon Pegg).
A verdade é que não se chega a perceber que a Fox reduziu muito o orçamento. O anterior foi rodado em quatro países diferentes, em 140 dias. Este foi inteiramente feito na Austrália (onde o governo deu incentivos fiscais), em apenas 90 dias. O orçamento de efeitos visuais foi reduzido pela metade (mas ainda temos sereias e monstros marinhos). E para o público não sentir a mudança de protagonistas, o roteiro também introduz trechinhos de outros livros. E, em vez de lançar no verão americano como o anterior, preferiram a época natalina. Pensam em duas alternativas para continuar a série, caso dê certo, ou A Cadeira de Prata ou então pegar um prequel, um prólogo de O Sobrinho do Mágico, que seria mais leve e engraçado.
Não sei dizer se a série vai continuar. Não tenho nenhum especial apreço por ela. Mas este terceiro filme é perfeitamente consumível, tem um pouco de tudo para cada gosto, com lições morais (mas nenhum romance) e aventura.