Crítica sobre o filme "Harry Potter e As Relíquias da Morte Parte 1":

Jorge Saldanha
Harry Potter e As Relíquias da Morte Parte 1 Por Jorge Saldanha
| Data: 23/04/2011
Acho difícil que algum dia a saga de fantasia HARRY POTTER alcance o status de que, tanto na literatura como no cinema, desfruta a trilogia O SENHOR DOS ANÉIS. Mas é inegável que, para um produto de massas, a série possui qualidades que a colocam vários pontos acima da concorrência atual. J. K. Rowling, a partir de seu livro de estreia, criou e desenvolveu uma mitologia fascinante povoada por personagens inesquecíveis - e são os personagens, principalmente aqueles que acompanhamos desde a sua infância e que estão prestes a se tornar adultos, que estão no centro do que há de melhor nas aventuras mágicas e progressivamente mais sombrias de Hogwarts.

A David Yates, que assumiu a direção da cinessérie a partir de A ORDEM DA FÊNIX, coube a missão de conduzir seus últimos capítulos, sendo que este HARRY POTTER E AS RELÃQUIAS DA MORTE foi dividido em dois filmes. Decisão muito acertada, já que o livro final de Rowling é simplesmente massivo, e espremê-lo em um único longa de duas ou mesmo três horas certamente provocaria a ira dos fãs por não aproveitar boa parte do material. E esta PARTE 1 representa uma significativa melhora em relação ao filme anterior, O ENIGMA DO PRÃNCIPE, que ao omitir partes significativas do livro original acabou caracterizado por seu ritmo lento e final anticlimático. Uma sequência de abertura forte, na qual o Senhor das Trevas Voldemort (Fiennes) e seus Comensais da Morte sacrificam uma professora de Hogwarts, prenuncia o que agora está por vir: eles usarão todo o seu poder maligno para localizar Harry (Radcliffe) e matá-lo.

Felizmente o jovem bruxo não está sozinho, e além dos amigos Ron (Grint) e Hermione (Watson), os sobreviventes da Ordem da Fênix estão dispostos até mesmo a dar suas vidas por ele – o único capaz de enfrentar Voldemort. A divertida cena em que o grupo toma a poção Polissuco para se transformar em réplicas perfeitas de Harry é na mesma medida tocante, ao demonstrar o auto sacrifício em nome da amizade ou de um objetivo maior. Segue-se uma eletrizante perseguição aérea, e nela o espectador sente um verdadeiro senso de perigo que se estenderá pelo resto da produção. A mensagem passada pela morte de alguns personagens queridos é clara – ninguém está a salvo, e nesta guerra, ganhe quem ganhar, haverá perdas irreparáveis.

Outro destaque é a sequência em que Harry, Ron e Hermione, assumindo a forma de três adultos, infiltram-se no Ministério da Magia para obter e posteriormente destruir uma das Horcruxes. Após isso se segue uma espécie de calvário do trio por cenários inóspitos, enquanto eles fogem dos enviados de Voldemort. O roteirista Steve Kloves e o diretor Yates empregam essa longa sequência para bem explorar a amizade dos três, colocada à prova pela Horcrux, que como o Um Anel de O SENHOR DOS ANÉIS exerce uma influência maligna e corruptiva sobre seu portador. O que poderia ser apenas uma série de momentos monótonos acaba se revelando um interessante desenvolvimento dos laços que unem Harry, Hermione e Ron, num segmento muito mais consistente que toda a saga água com açúcar CREPÚSCULO.

HARRY POTTER E AS RELÃQUIAS DA MORTE – PARTE 1 certamente será melhor apreciado pelos fãs da franquia, e não é recomendado para quem não tenha assistido a nenhum dos filmes anteriores. Fora alguns curtos diálogos e manchetes do Profeta Diário, que fazem referência a eventos de O ENIGMA DO PRÃNCIPE, não há esforço maior em situar o espectador na trama. Porém, com sua estrutura dinâmica e bem construída, prepara de forma exemplar o terreno para a épica batalha em Hogwarts que virá na PARTE 2, que chegará aos cinemas no próximo mês de julho. A espera dos fãs de Harry, finalmente, está acabando.