Crítica sobre o filme "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos":

Viviana Ferreira
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos Por Viviana Ferreira
| Data: 27/04/2001
Todo ano o lendário diretor Woody Allen lança um filme novo, sendo que, desde 2005, quando ele retomou o prestigio com a critica e o publico com o excelente Match Point... há então sempre uma expectativa em relação aos seus projetos... de lá até aqui ele dirigiu o não entendido Scoop – O Grande Furo, o fraquinho O Sonho de Cassandra (mas que revelou as fantásticas atrizes britanicas Hayley Atwell e Sally Hawkins), o excelente Vicky Cristina Barcelona, o ótimo mas pouco visto Tudo Pode Dar Certo e o “bittersweet†Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, que começa promissor mas vai se afundando, perdendo o eixo do que poderia ser uma comédia tão refrescante quanto os últimos dois longas do diretor.

O filme, que é recheado de estrelas, é protagonizado por Naomi Watts que interpreta Sally, que trabalha em uma galeria de arte e é casada com Roy (Josh Brolin) um escritor preguiçoso que não consegue terminar seu novo livro. Sally é filha de Helena (Gemma Jones, a melhor do elenco) e Alfie (Anthony Hopkins- o nome seria alguma alusão ao famoso personagem inglês talvez?) que estão se divorciando. Alfie teve aquela crise de meia idade e quer viver a "juventude perdida" onde acaba se envolvendo com Charmaine (Lucy Punch substituindo Nicole Kidman), uma prostituta que é chave de cadeia. Enquanto isso Helena, em crise por ter sido abandonada pelo marido, acaba visitando cada vez mais constantemente a vidente Cristal (Pauline Collins), que claro, fala sempre o que ela quer ouvir. Já Sally, em crise por o marido ser um vagabundo, acaba se apaixonando pelo chefe Greg (Antonio Banderas), enquanto seu marido se apaixona pela linda e jovem musicista Dia (Freida Pinto) o qual ele observa incansavelmente da janela de seu apartamento.

Com uma premissa que promete muito, o longa peca justamente pelo pessimismo aplicado aos seus personagens... diferentemente de seus filmes anteriores do gênero, não há aqui nenhum desfecho positivo, onde todos, digo todos os personagens acabam tendo um final decepcionante! É complicado então ver um filme que começa tão refrescante e cativante, tornar-se amargo e obscuro ao longo de sua jornada, fazendo com que ao final deixe uma sensação de desânimo no expectador.

Mesmo assim ele vale ser visto, já que o elenco brilha incandescente e nada pode fazer com a tragédia que envolve a vida de seus personagens... E, para quem gosta do diretor, vale conferir, embora desta vez sua visita à Londres tenha sido bem menos produtiva do que foi com Match Point. (Viviana Ferreira)

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“Woody Allen é sem dúvida um vulto da realização, um autêntico símbolo da cidade de Nova York que ele representa sempre com muito orgulho. Apesar de ter uma personalidade bastante reservada, conseguiu o sucesso no mundo do cinema. Pode ser bastante excêntrico, mas isso não lhe tira o grande talento de realizador, roteirista e intérprete. Woody Allen é um ícone cinematográfico quase perfeito.†Com estas palavras que não deixam dúvidas, o crítico carioca José Carlos Avellar encerra a apostila de seu curso Woody Allen fora de quadro, ministrado este ano em Porto Alegre.

Ao ver o novo filme de Allen, Você vai conhecer o homem de seus sonhos (You will meet a tall dark stranger; 2010), o espectador passa a partilhar com Avellar de certas sugestões que se entrelinham na análise do crítico brasileiro ao pensar sobre o cinema do realizador de Maridos e esposas (1992). Segundo sugere a observação de Avellar, há um choque entre a introspecção de Allen e o sucesso dele no universo de badalação do cinema, mas, outra sugestão, este choque é bem resolvido pelo cinema de Allen. Em Você vai conhecer o homem de seus sonhos Allen não deixa de estar filmando para a indústria do cinema, valendo-se de suas técnicas apuradas de narrar, de suas estrelas que nunca vão decepcionar o que se espera delas de estereótipos e componentes; mas, aí vem a originalidade de Allen, o cineasta americano é um discípulo do francês Robert Bresson, desglamuriza as facilidades narrativas de Hollywood, desglamuriza os atores conhecidos (a precisa marcação de modelo bressoniano exigida por Allen pode ser desfrutada na interpretação de Anthony Hopkins, incrivelmente contido e “humildeâ€, e até mesmo as caracterizações convencionais de Naomi Watts são um pouco adulteradas). Sutilmente, Allen reverte Hollywood: as histórias sentimentais de Allen exalam um cinismo impagável para um tempo de moralismos estereotipados e repetitivos.

Allen começa e termina citando Shakespeare e a ideia de que a vida, como a literatura e o cinema (seus espelhos stendhalianos), está cheia de som e fúria e nada significa. Allen brinca com os fracassos e os passageiros acertos de suas criaturas. Você vai conhecer o homem de seus sonhos é um dos mais brilhantes e divertidos filmes de Allen em vários anos. E a personagem de Helena (a impagável Gemma Jones), com a qual o filme começa suas histórias cruzadas e familiares, é o ponto central de seu refinado humor: ela se ilude, acredita em outras vidas, tem sua vidente-talismã; tudo aquilo em que o cético Allen não crê: mas é na verdade a personagem que, com seu furor narrativo, é a porta-voz do cineasta em cena. (Eron Fagundes)