Crítica sobre o filme "Federal":

Eron Duarte Fagundes
Federal Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 27/04/2011
Estamos em época em que o policial brasileiro é o destaque. Tanto o policial indivíduo cuja profissão é servir à segurança da sociedade quanto o policial como narrativa cinematográfica (sempre se pensou que não sabemos fazer filmes policiais: as coisas parecem desajeitadas e os diálogos muitas vezes não convencem). Com os Tropa de elite de José Padilha a questão começou a modificar-se. Depois destes filmes de Padilha o espetáculo cinematográfico começou a invadir a realidade, transformando a realidade em espetáculo, como se pôde ver nos recentes atos policiais em favelas do Rio e com tendência a espalhar-se pelo país, como se percebe de fatos recentíssimos em Porto Alegre: cinema e mundo já não podem tão claramente ser separados, ou antes, o mundo parece existir para que o cinema o documente.

Federal (2010), de Erik de Castro, é um dos rebentos das atuais tendências sociais e cinematográficas do país. E na verdade, diferentemente dos filmes de Padilha, representa um retrocesso na feição da narrativa cinematográfica brasileira. Tentando resgatar as relações truculentas da polícia federal com o narcotráfico, Federal exacerba em cenas eróticas de encomenda fácil e desalinha gestos e conversas das personagens (mesmo contando com atores experientes como Selton Mello e Carlos Alberto Riccelli) quase como um teatrinho infantil à antiga.

Obscuro e por vezes soturno, Federal, para além de seus desacertos especificamente fílmicos, tem lá duas dificuldades de comunicação com o público comercial a que se destina. (Eron Fagundes)