Crítica sobre o filme "Tron: O Legado":

Jorge Saldanha
Tron: O Legado Por Jorge Saldanha
| Data: 18/05/2011
Considerando alguns “tratados†que foram escritos despejando o quão clássico o filme original de 1982 é, e de como seria decepcionante esta tardia continuação, a estreia de Joseph Kosinski na direção de um longa-metragem me surpreendeu positivamente. Sim, porque sob qualquer aspecto, TRON: O LEGADO representa uma experiência cinematográfica superior à do seu predecessor. Claro, é inegável que TRON: UMA ODISSÉIA ELETRÔNICA (TRON, 1982), de Steven Lisberger, foi um filme à frente de seu tempo, com o emprego então inédito de computação gráfica e o conceito de um mundo virtual, 17 anos antes de MATRIX (1999). Contudo, como outros filmes da Disney do período, TRON foi o típico caso de um grande potencial desperdiçado, com seu roteiro simplório e personagens unidimensionais, e que mesmo assim passou a ser cultuado por muitos fãs de ficção científica por seu caráter vanguardista e visionário.

Passaram-se muitos anos até a Disney perceber que possuía nas mãos uma franquia potencialmente rentável que, levada às telas com a tecnologia 3D do século 21, poderia finalmente ir além da proposta original de 1982, aliando o virtuosismo técnico com ideias mais consistentes. Assim, tendo Lisberger como consultor e produtor, Kosinski na direção e novamente com o premiado Jeff Bridges e Bruce Boxleitner (que também é lembrado pelos fãs da ficção científica como o Capitão Sheridan de BABYLON 5) no elenco, ao lado de ilustres “novatos†como Michael Sheen e Olivia Wilde, TRON: O LEGADO foi lançado no final de 2010 não exatamente como uma continuação, sendo desnecessário que o espectador tenha assistido ao filme anterior para situar-se na trama.

Que, aliás, é praticamente a mesma do filme original, mas enriquecida pelo tema da busca pela paternidade perdida, que aqui assume duas visões: as dos dois filhos, um bom (Sam) e um mau (Clu), cada um a seu modo sentindo-se rejeitado pelo patriarca Kevin Flynn - tema que, aliás, também pode ser visto sob a ótica religiosa do Mito da Criação. Os personagens não são excepcionalmente desenvolvidos, mas o são de forma suficiente para que nos importemos com eles. Outra grande vantagem do novo filme, além do fantástico mundo virtual em CGI, é a sempre luminosa presença de Olivia Wilde – sem dúvida o melhor efeito visual de TRON.

Menção honrosa para a ótima trilha sonora da dupla francesa Daft Punk, que usa sonoridades eletrônicas dos anos 1980 combinadas a ritmos mais contemporâneos e eficazes elementos orquestrais nos momentos mais pungentes. Com excelente visual e trama consistente, TRON: O LEGADO resplandeceu no final de um ano em que, de ficção científica, apenas o extraordinário A ORIGEM mereceu destaque.