Crítica sobre o filme "Besouro Verde":

Rubens Ewald Filho
Besouro Verde Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/07/2011
Para quem se surpreendeu ao ver o desbocado Seth Rogen – eterno desajeitado de comédias um tanto escrachadas – no título de super-herói, é bom saber que O Besouro Verde sempre foi planejado como um híbrido do gênero com foco no humor. As fracassadas tentativas prévias de adaptar a série (rádio e HQ) criada por George W. Trendle já teve nomes como Kevin Smith, Eddie Murphy e até mesmo Stephen Chow envolvidos. A verdadeira surpresa em torno deste projeto, portanto, fica por conta do seu diretor: Michel Gondry. Cineasta de filmes inusitados e visualmente bastante criativos (e independentes), indagava-se sua presença no que parecia um blockbuster pronto. O filme não é exatamente um arrasa-quarteirão, mas também não é um filme apropriadamente Gondry. Em outras palavras, é uma amarga decepção para quem está a espera de grandes cenas de ação e muitos efeitos especiais, como também para quem – por algum segundo – esperava que Gondry fosse revolucionar o gênero. Parece, infelizmente, que o gênero revolucionou Gondry; e o resultado é uma bagunça.

Rogen interpreta Britt Reid, sujeito mimado que herda a companhia de seu pai, James (Tom Wilkinson). Tendo que aceitar a morte do pai após um relacionamento bastante conflituoso com o mesmo, Reid de repente se vê indeciso sobre seu papel no império. Kato, empregado nada convencional de seu pai, é quem mostra o caminho. Dono de invenções tecnológicas das mais bombásticas, de uma forma coloca na cabeça de Britt que podem ser vigilantes. Munidos então de muito dinheiro, uma companhia editorial influente e disfarçados de bandidos, Reid – agora Besouro Verde – une-se então ao “expert†em artes marciais Kato para combater o mal das ruas de Los Angeles.

Existem apenas resquícios do Gondry que conhecemos tão bem em O Besouro Verde. Há um foco maior nos personagens que na ação propriamente dita – méritos também dos roteiristas Evan Goldberg e Seth Rogen, que escreveram filmes como Superbad: É Hoje e Segurando as Pontas juntos – e há também alguma inventividade visual, especialmente no que concerne as próprias (poucas) sequências de ação e o uso pertinente de câmera-lenta. Kato, o “parceiro†acaba roubando a cena do Besouro Verde neste aspecto (e em quase todos os outros). Com uma atuação totalmente carismática de Jay Chou, conquista quase que imediatamente e acerta no humor quando Seth Rogen não consegue. Aliás, Rogen está surpreendentemente chato e irritante como Britt Reid, e não de uma forma requerida ou necessária pelo roteiro. Trata-se de um personagem inteiramente baseado em excessos e o humor forçado de Rogen distancia a audiência o máximo possível de sua “personaâ€.

Lamentavelmente, Rogen, que deveria ter sido uma das maiores virtudes do longa, acaba se tornando então um dos grandes pesares. Entre muitos outros. O tal aspecto híbrido do projeto mencionado ao início deste texto de fato acontece, mas não de forma equilibrada e consciente. O Besouro Verde é de uma indefinição espantosa. Não se concretiza como nenhuma espécie de filme e não demonstra verdadeira ambição neste sentido. A trama é pífia, sem grande instigação e transparente de tal forma que a própria condução (preguiçosa) de Gondry denote um tom de inautenticidade e de pura “impassividadeâ€. Não se compromete com o que está se desenrolando em tela e chega-se ao término certo de que deste filme de super-herói não terá qualquer sequência – quem sabe um reboot?

Méritos se reservam à equipe técnica, ao trabalho primoroso de James Newton Howard por trás da trilha sonora e pelas atuações de Jay Chou e – especialmente – Christoph Waltz. Ator que parece se divertir mais que qualquer um outro realizando o filme, acaba transparecendo isso de forma que seu vilão se torne dono das melhores cenas da obra. Porém, com duas exaustivas horas de duração, certamente não são qualidades suficientes para sustentar este erro de cálculo chamado O Besouro Verde. (Wally Soares)

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Não sei como Hornet (vespa) virou Besouro no Brasil, mas deve ser coisa antiga, porque a origem desse personagem vem ainda do tempo das novelas de rádio (de 1936 a 1952) e nunca foram muito populares internacionalmente. Lembro-me apenas de uma série de TV de curta duração (1966- 1967) estrelada por Van Williams, mas famosa porque foi o lendário Bruce Lee que fez o papel de Kato nos 26 episódios (é por isso que alguns deles chegaram até a passar em nossos cinemas). A pesquisa revela que houve outro Hornet em 1940, como seriado em capítulos (de cinema) estrelado por Gordon Jones e com o ilustre ator oriental Keye Luke como Kato. Em 2006, houve um curta com o personagem.

Mas só agora por insistência do comediante Seth Rogen é que o filme se torna realidade. Em 2001, a Miramax comprou os direitos para fazer com Jet Li, e três anos depois Kevin Smith ia fazer o filme com Jake Gyllenhaal e uma Kato feminina. O roteiro que escreveu seria lançado depois como quadrinhos. Rogen se associou à Columbia para fazer o filme e até o roteiro, chegando ao cúmulo do esforço de perder muitos quilos e ficar atlético para conseguir interpretar o personagem central. Uma pena que tenha sido um erro, porque Rogen não tem o carisma, nem a simpatia para convencer num personagem difícil, um playboy pretensioso e sem interesses, egoísta e pouco inteligente, que se torna dono de um grande jornal quando o pai dele (Wilkinson) é assassinado. Pior ainda é que não há a menor química entre ele e o verdadeiro astro do filme que é Kato, feito aqui por um astro pop de Hong Kong, chamado Jay Chou, ágil e ligeiro (mas não consegue deixar qualquer impressão, assim o filme acabou ficando com dois astros transparentes, sem personalidade ou charme). Pensou-se em Stephen Chow ou James Wan, antes de chamarem o francês Gondry, ou seja, gente experiente em ação (este já tinha tentando fazer o filme em 97 na Universal com Jason Scott Lee ou Mark Wahlberg /Vince Vaughn). Gondry não é a pessoa certa. O roteiro custa a fazer sentido, a história custa a engatar e, mesmo assim, não se decide se o tom é comédia ou mera aventura. As cenas de ação caem na farsa e no total exagero (como o ataque ao escritório do jornal).

Acho que o filme resulta feio, sem inspiração, com o elenco errado (Cameron Diaz está perdida e mal fotografada como interesse romântico, uma secretária que entende tudo do jornalismo que o herói não saca). Também não melhora nada em 3D. Embora tenha rido razoavelmente nas bilheterias, rendendo cerca de US$ 80 milhões (R$ 133,7 milhões), não é o suficiente para pagar seu orçamento de mais de US$ 120 milhões (R$ 200,6 milhões). (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos. Rubens tem um blog exclusivo no portal R7)