É incrível como depois de vinte anos de carreira, os Irmãos Farrelly não melhoraram muito como realizadores. Ainda têm a mão pesada, não digo só em piadas de banheiro (onde aqui se esmeram), mas na narrativa da história, que é lenta, sem ritmo, com as cenas de exposição e conversas muito chatas, onde mesmo os atores mais experimentados ficam sem vida, moscas mortas (isso sucede com a apática Jenna Fischer, que até agora aparecia charmosa em The Office, mas aqui envelhecida e mal-tratada).
Também são prejudicados por uma maquiagem estranha, esbranquiçada (isso atrapalha, em particular, Owen Wilson, que deu uma queda violenta do último filme para este, demonstrando seus 43 anos). O resultado é muito irregular e isso explica porque o filme não foi o êxito esperado - custou U$ 36 milhões e rendeu, já no fim de carreira, 34). Eu me confundi no preview com esse ator Jason Sudeikis, que achei que era de Se Beber Não Case. Engano meu, não o conhecia e não o reconheci, apesar de estar em séries de TV como (30 Rock, The Cleveland Show, Saturday Night Live. Pior: o achei especialmente sem graça, ainda mais que ele tem as gags mais importantes, ou seja, é o trapalhão, enquanto Owen faz o Dean Martin, ele é o Jerry Lewis. Mas seu personagem, que imagino inspirado no que costuma fazer, é chato, burro, desagradável e não contribui nada com o filme.
Passe Livre é daquelas comédias áridas que só subsistem porque tem meia dúzia de piadas, que acabam sendo engraçadas e até inéditas, de forma que o público sai comentando sobre elas (ao final, no meio dos letreiros, há uma piadinha ainda com a humorista Kathy Griffin, fazendo uma aparição especial, o problema é que pouquíssima gente tem ideia de quem seja ela no Brasil).
Não sei se consigo enumerar essas piadas: tem a do campo do golfe, a da sauna (com uma desagradável nudez frontal masculina, que assusta o público), a do barulho com a boca (grossa, mas engraçada), a da moça que usa fio dental (certamente das mais grossas que já vi em humor de banheiro, escatologia pura). Baixaria, mas, afinal, essa é a especialidade da dupla de diretores mesmo em Quem Vai Ficar com Mary? . Achava que o trailer mostrava os melhores momentos, mas não é verdade e por isso mesmo que ele é ruim. O filme, infelizmente, apelou para o lado mais baixo do meu humor. E com vergonha, admito, por vezes me fez rir.