Crítica sobre o filme "Splice: A Nova Espécie":

Jorge Saldanha
Splice: A Nova Espécie Por Jorge Saldanha
| Data: 23/08/2011
O canadense Vincenzo Natali ganhou notoriedade com o barato mas criativo CUBO (CUBE, 1997), e de lá para cá alternou trabalhos como roteirista, diretor e produtor na TV e no cinema. Nada, contudo, que tenha chamado maior atenção – exceto talvez pela direção de um dos segmentos do longa PARIS, EU TE AMO (PARIS, JE T´AIME, 2006). Este SPLICE - A NOVA ESPÉCIE (SPLICE, 2010), seria o projeto seguinte de Natali após CUBO, mas dificuldades como o alto orçamento exigido pelos efeitos visuais causaram seu adiamento. Finalmente em 2010, tendo Guillermo Del Toro na produção, o realizador pôde finalmente lançar esta interessante ficção científica (ainda que menos original que CUBO). No Brasil o filme foi distribuído pela California Filmes no início de 2011 em um circuito limitado – creio que inclusive muitas capitais ficaram de fora. Agora, com sua chegada em DVD e Blu-ray para venda direta, mais apreciadores do gênero poderão conferir esta nova e boa investida na linha “o Homem brinca de Deus, cria a Vida e se dá malâ€.

A trama de SPLICE bebe, como tantos outros títulos sci fi, da fonte do Frankenstein de Mary Shelley, além de possuir pontos em comum com A EXPERIÊNCIA (SPECIES, 1995). Adrien Brody e Sarah Polley, em competentes desempenhos, interpretam um casal de geneticistas que trabalha para uma multinacional farmacêutica. Eles criam uma nova forma de vida semelhante a uma grande lesma, mas pressionados por seus empregadores decidem deixar de lado as questões morais e partem para uma nova criação, agora combinando genes animais e humanos. O resultado é uma criatura híbrida batizada de Dren (Delphine Chanéac). Possuindo uma taxa de crescimento acelerada Dren (“Nerd†escrito de trás para frente...) é criada em segredo pelo casal, e conforme os dias passam mais ela adquire a aparência e o comportamento de uma fêmea humana. Enquanto Dren rapidamente passa da infância à adolescência, o casal se vê cuidando dela como se fosse uma filha. Eles mudam Dren do laboratório para a fazenda abandonada da família de Elsa, e têm dificuldades em convencê-la da necessidade de que seja mantida oculta. Quando atinge a maturidade sexual a garota demonstra interesse pelo único macho disponível - Clive.

Um dos grandes méritos de Natali nesta produção foi ter conseguido, na maior parte do tempo, evitar os clichês que assolam os filmes do gênero ao concentrar-se principalmente no dilema do casal de cientistas para com a sua criação – afinal, seria ela apenas mais uma de suas experiências ou, de fato, uma substituta para a filha natural que Elsa não quisera ter com Clive? O grande trunfo do filme é, exatamente, a longa construção do arco de Dren, que se torna cada vez mais humana e graciosa - ainda que sua aparência, mesmo quando adulta, lembre uma felina bípede sem pelos – e, concomitantemente, o progressivo aprofundamento dos sentimentos do casal para com ela, que praticamente equivalem ao amor dos pais por uma filha até que o fator Freudiano / incestuoso entre em cena.

O melhor de SPLICE está nos seus dois primeiros atos, ao lidar com as questões éticas da experimentação com DNA humano, a criação da vida em laboratório e o fascínio pelo desconhecido, tudo enriquecido pelo crescente afeto dos cientistas para com a sua criação. A dupla de atores principais comanda a trama, e os efeitos visuais utilizados para tornar Dren real e convincente são ótimos, combinando maquiagem especial e computação gráfica para criar imagens bizarras, delicadas e até sensuais (às vezes tudo isso ao mesmo tempo). Já no ato final há uma reviravolta e entramos no terreno mundano do filme de horror com monstros, provavelmente para aumentar o apelo comercial do filme. O final abre caminho para uma possível continuação.

Não sei se é apenas pelo fato de Natali ser canadense e de o filme ter sido rodado no Canadá, mas para mim ele me lembrou as primeiras produções sci fi de seu conterrâneo David Cronenberg. E os fãs de STARGATE ATLANTIS gostarão de ver David Hewlett, que naquela série interpretava o cientista Rodney McKay, em um papel relevante. Pesando os prós e os contras SPLICE - A NOVA ESPÉCIE merece ser conferido, já que possui qualidades que o destacam em meio à mediocridade reinante. E como é bom ver um filme de ficção científica recente que não trate de invasões alienígenas!