Crtica sobre o Blu-ray "Fox - 805 Min." do filme "Star Wars: A Saga Completa":

Jorge Saldanha
Star Wars: A Saga Completa Por Jorge Saldanha
| Data: 02/10/2011
Desde que o Blu-ray saiu vitorioso na guerra dos discos de alta definição os fãs de STAR WARS aguardavam ansiosamente a chegada da saga ao formato, o que aconteceu oficialmente dia 16 de setembro de 2011. O lançamento mundial em três boxes (dois com as trilogias em separado e um com a saga completa) teve o alto padrão que era esperado: embalagem caprichada (a do Brasil da saga completa, Digistak com encarte ilustrado de 28 páginas, segue o ótimo padrão da europeia – apenas a norte-americana, em Cardboard, é mais sofisticada), alta qualidade e padronização no que se refere às opções de áudio e legendas, que incluem o português tupiniquim nos filmes e nos extras. Mas também já se esperava que George Lucas, aproveitando a remasterização para Blu-ray e a futura conversão em 3-D (formato no qual a saga será relançada nos cinemas a partir de 2012), faria novas alterações nos filmes. As modificações das versões lançadas em DVD você pode ler na resenha do box da Trilogia Original. Nesta, vou me limitar a comentar as alterações feitas para o Blu-ray, algumas inclusive que geraram polêmicas e ameaças de boicote dos fãs - que, a julgar pelo fato de que os boxes de STAR WARS já são os mais vendidos na história do formato, não se concretizaram.

Primeiramente houve retificações de problemas da remasterização anterior em DVD - correções de enquadramento e da cor de sabres de luz, ajustes na composição de imagens em cenas de efeitos visuais e remixagem do áudio (a fanfarra da trilha sonora de John Williams no EPISÓDIO IV, originalmente ouvida quando os caças X-Wing mergulham para atacar a Estrela da Morte e que na mixagem do DVD sumira, foi restaurada). Também, no final EPISÓDIO VI foi eliminado o “borrão” usado para disfarçar a falha na maquiagem do Imperador. Mas a alteração mais óbvia foi a substituição, no EPISÓDIO I, do boneco de Yoda semelhante ao utilizado na Trilogia Original (mas estranhamente mais tosco) pelo mesmo modelo digital dos EPISÓDIOS II e III. Até aqui, nada que tenha merecido maiores contestações. Mas também houve modificações que vieram do Lado sombrio do cérebro de Lucas, que parece nunca estar satisfeito com o resultado final dos filmes. A imitação do Dragão Krayt de Obi-Wan no EPISÓDIO IV soa bem diferente; a famosa cena de Han e Greedo no EPISÓDIO IV foi mais uma vez alterada – agora os dois disparam ao mesmo tempo, ou quase; no EPISÓDIO VI os Ewoks, cujos olhos não tinham pálpebras, agora piscam de forma “sinistra”; no EPISÓDIO VI surge (sem razão aparente) um alienígena da raça Durg no palácio de Jabba, cujos portões ganharam dimensões maiores; e finalmente a alteração que causou mais reclamações – provavelmente para combinar com o contestado momento no final do EPISÓDIO III onde Vader grita “Nooo”, agora no final do EPISÓDIO VI, quando o vilão antes decidia silenciosamente salvar Luke do Imperador, ele também grita “Nooo” – duas vezes, e em todas as dublagens disponíveis no box. Aparentemente os EPISÓDIOS II, III e V foram os únicos que não tiveram revisões.

Modificações à parte, vamos ao que realmente interessa – o áudio e o vídeo dos filmes. Colocados os discos no reprodutor, após a conhecida fanfarra da Fox somos levados diretamente aos elegantes menus animados, que simulam hologramas com imagens dos filmes. Feitas as configurações de áudio e legendas e iniciada a reprodução, o título de cada filme e os letreiros iniciais são mostrados em nosso idioma. Contudo, no EPISÓDIO I, a introdução “Há muito, muito tempo, em uma galáxia distante...” foi substituída pela mais “aportuguesada” “Há muito tempo, em uma longínqua galáxia...”. Como de praxe nos lançamentos em home video de Lucas, os seis filmes receberam certificação THX, o que contudo não significa que todos tenham uma imagem deslumbrante. As transferências anamórficas 1080p/AVC MPEG-4, na proporção original de tela 2.35:1, variam do medíocre ao simplesmente espetacular. Cabe a ressalva, contudo, que mesmo em seus piores momentos todas representam uma grande melhoria em relação às suas equivalentes em DVD. Único da nova trilogia filmado em película 35mm, o EPISÓDIO I também visualmente deixou a desejar graças ao óbvio excesso de DNR – mesmo sem chegar no nível do relançamento de PREDADOR, a granulação da película simplesmente foi eliminada e, nos closes de rostos e roupas, percebe-se a perda de detalhes e texturas. Tomadas externas e cenas de batalha em CGI tem uma aparência melhor e mais detalhada, e a aplicação de edge enhancement – que via de regra faz dobradinha com o DNR – é mínima. Em relação ao DVD, a principal melhoria além das maiores resolução, claridade e vivacidade das cores, foi uma correção de enquadramento que permitiu mostrar mais imagem na tela. No EPISÓDIO II, já inteiramente rodado, processado e editado digitalmente, há uma perceptível melhora, apesar de que a imagem, considerada na época nítida demais (!), foi suavizada na pós-produção com o emprego, obviamente, de DNR. As sequências de efeitos em computação gráfica não foram muito afetadas, apresentando níveis de detalhes muito bons, mas as que combinam atores com efeitos visuais tem frequentemente uma aparência filtrada. Já no EPISÓDIO III há um grande salto na qualidade da imagem, que simplesmente é de referência, ao nível dos melhores lançamentos recentes em Blu-ray. Tudo aqui é muito mais nítido, claro e detalhado, independentemente de ser live action ou CGI. Nos rostos, inclusive no do Yoda digital, vemos nitidamente rugas, imperfeições, detalhes e pelos. Notamos os mínimos detalhes do tecido de capas e uniformes. As cores são vibrantes, os pretos sólidos como rocha, e toda essa impressionante qualidade sempre é intocada por filtros digitais.

Passando para a Trilogia Original, por melhor que fosse a restauração seria de esperar que os filmes demonstrassem o peso de seus 30 e poucos anos. Isso realmente ocorre aqui e ali, até em razão das técnicas de filmagem empregadas. Porém, mesmo que nenhum deles atinja o alto nível do EPISÓDIO III, no conjunto eles possuem qualidade de imagem mais consistente que a da nova trilogia, com a remasterização preservando a granulação normal da película e a alta definição revelando detalhes que não percebíamos nos DVDs. Nota-se a aplicação de edge enhancement, porém isso ocorreu de forma moderada e não chegou a ser um fator de distração. O fato é que nunca vi esses três filmes clássicos com imagem melhor, nem mesmo quando exibidos nos cinemas. Os rostos não tem aquela aparência de bonecos de cera típica do DNR, e o nível de detalhes é geralmente ótimo. Percebemos as mínimas rugas na pele de Jabba e Yoda, os riscos e sujeiras no metal dos robôs, as detalhadas texturas do tecido do manto de Obi-Wan, as imperfeições nas naves espaciais. Danos de película ou sujeira inexistem, já que cada fotograma foi limpo digitalmente. Idem quanto a artefatos de qualquer espécie. As flutuações que eram claramente perceptíveis nos DVDs agora praticamente sumiram. As cores são reproduzidas de forma vibrante e rica, com tons e saturação corretos. Os pretos por vezes não são tão consistentes, mas o ótimo contraste sempre preserva os detalhes nas sombras.

Se a qualidade da imagem, principalmente na nova trilogia, é variável, o áudio sem compressão de toda a saga apresenta um padrão elevado constante. As faixas originais em inglês DTS-HD Master Audio 6.1 são simplesmente de demonstração, ainda que as da Trilogia Original, assim como no vídeo, por vezes sofram com as limitações técnicas inerentes à produção. O que primeiro impressiona são as clássicas trilhas sonoras de John Williams, que simplesmente soam gloriosas em 6.1 canais, preenchendo todo o campo sonoro e nos trazendo todas as minúcias da orquestração e dos instrumentos. As mixagens de áudio e os efeitos sonoros supervisionados por Ben Burtt, que sempre foram um dos destaques da saga, ganham agora uma nova dimensão. Os sons dos sabres de luz, principalmente nos duelos da nova trilogia, ganham fidelidade e “peso” inéditos; os disparos de laser e os caças estelares cruzam agressivamente os canais surround; os detalhados sons ambientes do interior da Estrela da Morte nos envolvem; percebemos as minúcias do ruído do respirador artificial de Darth Vader; quando os grandes cruzadores passam pela tela seus motores fazem a sala tremer; de forma impressionante explosões retumbam no subwoofer. E tudo isso em um sound design perfeitamente equilibrado, com música, efeitos e diálogos sempre discerníveis e claros. Como referido acima, os efeitos sonoros e a fidelidade geral da nova trilogia são superiores, mas mesmo assim você ficará impressionado com o áudio da Trilogia Original. Quanto à comentada “DTS Bomb” (ruído elevado que provocaria a queima de alto-falantes) que haveria em determinados trechos do EPISÓDIO IV, não percebi nada de anormal. Ou se trata de hoax ou de alguém que possuía caixas subdimensionadas em relação à potencia do receiver e assistiu ao filme com o volume alto demais. Além da faixa lossless cada filme tem disponíveis dublagens Dolby Digital 5.1 em português, espanhol, francês e inglês (descritivo), e legendas nesses mesmos idiomas. O nosso box inova ao trazer em um panfleto os nomes dos dubladores nacionais dos filmes, exceto do EPISÓDIO III. É de estranhar que a Fox não tenha conseguido obter informações oficiais da dublagem dos filmes, tendo que utilizar publicações em jornais e pesquisar na internet para obter as que fossem possíveis.