Crítica sobre o filme "Piranha 3D":

Jorge Saldanha
Piranha 3D Por Jorge Saldanha
| Data: 03/11/2011

Em plena febre de remakes, 2010 viu com certo assombro a chegada aos cinemas deste PIRANHA, cuja proposta seria refilmar o cult homônimo produzido por Roger Corman e dirigido por Joe Dante em 1978. O original surgiu na esteira do TUBARÃO de Steven Spielberg, e esta nova versão dirigida por Alexandre Aja parece de fato mais uma refilmagem do dito cujo do que do filme de Dante, trocando o balneário marítimo Amity pela fictícia Lake Victoria, o sexo do xerife (agora uma mulher) e o tubarão por milhares de piranhas pré-históricas. A trama chega até a incluir elementos de TUBARÃO 2 (continuação lançada no mesmo ano do PIRANHA original), com a xerife tendo que salvar seus filhos que saíram para passear de barco.

Mas isto de certa forma não chega a surpreender tanto, então porque o assombro? Para começar ele decorre da abordagem dada por Aja e sua equipe ao filme, que virou uma espécie de homenagem aos filmes do final dos anos 1970 / meados dos 1980 misturada com sátira sócio-cultural, porém 100% trash em matéria de apelação à violência e à nudez gratuita feminina. Com censura "R" (equivalente no Brasil a 18 anos), o filme não economiza sangue, vísceras, mutilação, peitos e bundas, que ganham literalmente uma “nova dimensão” com o uso do 3D. Na verdade o novo PIRANHA é um “falso trash”, já que dispõe de recursos suficientes para criar efeitos de qualidade e em profusão.

Destaca-se o trabalho do especialista em zumbis Greg Nicotero (THE WALKING DEAD), que combinado com a computação gráfica cria cenas de inacreditável realismo - como mulheres cortadas ao meio por cabos, um fantástico escalpelamento por uma hélice de barco e pessoas saindo da água sem membros ou com os mesmos esfacelados pelas piranhas. Até por seu exagero, essas cenas acabam sendo mais engraçadas que chocantes, o que é reforçado pelo tom geral do filme, que apesar de não ser uma comédia não economiza humor e sátira, em seus diálogos e situações, à cultura norte-americana e à indústria pornô. Quanto a isso devemos agradecer ao toque francês que Aja deu à produção.

Mas os "méritos" do filme serão muito melhor apreciados se ele for visto em 3D, e aqui vai uma curiosidade a respeito: as filmagens com atores foram feitas em 2D e posteriormente convertidas na pós-produção. No entanto ele foi integralmente concebido como um legítimo filme 3D, e portanto os problemas que são típicos das conversões não aparecem aqui. De fato, avaliando pelo resultado final, é inacreditável que PIRANHA não tenha sido rodado nativamente em 3D já que usa e abusa dos clichês do formato, como objetos (via de regra piranhas e pedaços de corpos - incluindo genitália!) sendo jogados no rosto do espectador. No meio de tudo isso o elenco, mesclando novatos e veteranos como Elisabeth Shue, Ving Rhames e, principalmente Christopher Lloyd (o Doc Brown de DE VOLTA PARA O FUTURO), se sai bem. Richard Deyfuss, de TUBARÃO, faz uma ponta no início como a primeira vítima das piranhas.

Se tivesse que recomendar apenas dois filmes recentes para serem assistidos em 3D, não hesitaria em indicar AVATAR e este PIRANHA, certamente um filme que não agradará a todos mas que, puramente por seu elevado índice de diversão trash, poderá também em breve virar cult - isso se já não virou.