Crítica sobre o filme "Gladiador":

Jorge Saldanha
Gladiador Por Jorge Saldanha
| Data: 07/01/2012

Quase quarenta anos após SPARTACUS, o épico de Stanley Kubrick, foi iniciada a produção de mais um filme de gladiadores. Desde o início, a intenção foi fazer um filme não apenas digno dos grandes épicos romanos, em nada semelhantes às produções baratas que acabaram dominando o gênero, mas também que incorporasse as mudanças técnicas e estilísticas do cinema moderno. O roteirista David Franzoni, de AMISTAD, desde os anos 1970 ambicionava mostrar em filme os grandes combates dos gladiadores romanos. Por anos apresentou sua idéia a vários diretores, que sempre a rejeitaram. Finalmente Franzoni falou com Steven Spielberg, que aceitou produzir o filme através da Dreamworks. O diretor escolhido foi Ridley Scott, que dirigira os clássicos de sci fi BLADE RUNNER e ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO, mas que então amargava sucessivos fracassos. A partir daí iniciou-se uma produção complicada, não muito diferente da dos grandes épicos de Hollywood.

Para começar, o roteiro original de Franzoni foi bastante alterado pelos roteiristas que Scott chamou para o projeto (sendo um deles John Logan). Também não ajudava o elevado orçamento (para a época) de GLADIADOR, estimado em 100 milhões de dólares, com difíceis locações em Londres, Malta e Marrocos. As coisas pioraram quando o diretor recrutou nos pubs ingleses os notórios beberrões Oliver Reed, David Hemmings e Richard Harris. Nada, no entanto, causou mais temor do que a escolha de Russell Crowe para o papel principal. Crowe tivera um desempenho elogiado em LOS ANGELES - CIDADE PROIBIDA, mas estava longe de ser um astro. Mas a produção foi adiante, e outras complicações não demoraram a aparecer. Mesmo já alterado, o roteiro teve de ser constantemente reescrito durantes as filmagens. Nas locações, a equipe e o elenco enfrentaram doenças, tempestades destruidoras de cenários e todo o tipo de revezes. O pior deles, sem dúvida, foi a morte de Oliver Reed, em 02 de maio de 1999, poucos dias antes de encerrar a sua participação. O ator sofreu um ataque cardíaco fulminante, após ter passado horas bebendo uísque. Ridley Scott teve de recorrer a truques digitais (a um custo adicional de três milhões de dólares) para completar as cenas com o ator. O resultado ficou perfeito, e Reed pôde deixar a ribalta com uma atuação digna.

Transpostas as dificuldades e encerrada a produção, o resultado final impressionou por seu realismo: já na cena de abertura, usando 16.000 flechas incendiárias, 10.000 flechas comuns e várias catapultas, vemos o exército do imperador Marco Aurélio dizimar o último foco de resistência ao seu domínio, os bárbaros germânicos, incendiando uma floresta verdadeira de pinheiros (a área ia mesmo ser desmatada pela prefeitura de Londres). Depois, a Roma Antiga surge na tela com uma riqueza de detalhes e uma veracidade nunca antes vistas no cinema. Durante os grandes momentos de combate dos gladiadores, ao som da música de Hans Zimmer, a platéia experimentou a sensação de assistir a um espetáculo violento ao lado de 35.000 espectadores, no ambiente opressivo do Coliseu (reconstruído parcialmente em Malta, e completado digitalmente com a ajuda de computadores).

Quanto ao elenco, Crowe e Reed, excelentes, corresponderam às expectativas de Scott, com o também falecido Richard Harris brilhando no papel do imperador Marco Aurélio. Joaquin Phoenix, que também fora considerado uma aposta arriscada, deu destaque à vilania do personagem Cômodo. Connie Nielsen, por sua vez, esteve perfeita como a bela, oprimida e apaixonada Lucila. De resto, as pérfidas intrigas palacianas e a dramática conclusão arrebataram definitivamente os espectadores. GLADIADOR, apenas em seu final de semana de estreia, rendeu quase 35 milhões de dólares, e acabou tornando-se a segunda maior bilheteria do ano e um dos grandes vencedores do Oscar de 2000 (Filme, Roteiro, Figurino e Efeitos Visuais). Hoje, apesar de não ter, por parte da crítica, o mesmo prestígio de clássicos como BEN-HUR e SPARTACUS, é considerado pelo público um dos maiores épicos do cinema, e talvez o filme mais popular de Ridley Scott.