Não se esperava um estouro de bilheteria tão grande. Este 300 (seriam os 300 de Esparta, como se chamou o filme dos anos 60 com Richard Egan e Diane Baker, que foi a origem remota do projeto) rendeu 70 milhões na primeira semana e já dobrou essa quantia. Mesmo sendo um filme muito violento (porém como tudo é estilizado e dentro de um contexto de luta e guerra é muito mais aceitável do que em Sin City, que também era baseado num graphic Novel do mesmo Frank Miller). E endereçado principalmente ao publico masculino (mas com muitos homens semi-nus e com seus peitos e barrigas desenhados pela computação gráfica tem uma leitura também muito homoerótica que tem agradado as mulheres). De qualquer forma, é muito fiel a sua origem sem ser escravo disso (como Sin City) já que o diretor se permite algumas liberdades bem cinemáticas (algumas cenas que não tem no álbum: a presença mais constante da mulher de Leônidas, a Rainha Gorgo inclusive no final que lembra um pouco Gladiador; A Àrvore da Morte, uma cena impressionante; A Rainha sendo seduzida e engana pelo político corrupto Dominic West , Theron; o Ataque do Rinoceronte; a lambida na mulher oráculo). Basicamente porém faz o louvor do patriotismo, do auto sacrifício, mesmo da morte por uma boa causa. O que é compreensível já que trata de um fato histórico lendário que pode ter sido aumentado pelos historiadores mas que hoje ainda é recordado como o máximo da coragem. É curioso que com freqüência o cinema evitou mostrar a civilização da cidade estado grega Esparta, porque havia semelhança entre os que eles faziam (como o Estado criar as crianças desde os 7 anos) que lembravam o Comunismo. Enquanto a rival Atenas era símbolo da Democracia. Passado o perigo comunista, é possível se fazer o louvor de um estado militarista, que pregava a austeridade, que matava os bebes doentes (nesse caso lembrando o Nazismo). Mais precisamente de um Rei rebelde que bate de frente com os políticos do Senado, presos a normas religiosas e que com apenas 300 guerreiros vai ate as Termópilas, um passagem nas montanhas, para enfrentar o enorme exercito invasor do Rei Xerxes da Pérsia (atual Irã). E depois de resistirem por três dias (com alguma ajuda que foi dispensada ao final), foram vitimas de um traidor e acabaram lutando até a morte. Ou seja, são heróicos e bravos, exemplos de vida. Será? É discutível. O que provocou reclamações dos liberais, já que os espartanos poderiam ser comparados com os soldados americanos no Iraque. E os vilões são escurinhos, sexualmente pervertidos, por vezes monstruosos e efeminados. Por outro lado, o filme também foi criticado por lembrar muito um videogame. Como não sou adepto desse tipo de diversão, a mim não incomodou. Até que achei interessante o que fez o diretor utilizando o fotografo chinês (o mesmo que rodou Herói/The Hero, um dos meus filmes favoritos) e rodando tudo em estúdio, sempre com um fundo azul (ou seja, tudo é estilizado, mexido em computação, dando um clima de sonho ou pesadelo, totalmente não realista. Mesmo tendo um orçamento relativamente pequeno, de 60 milhões de dólares, já que a Warner não acreditava no êxito do projeto). Ou seja, o visual é fantástico, o filme é envolvente, forte, com um elenco interessante (Gerard Butler o Fantasma da Opera faz Leônidas, embora eu ache difícil reconhecer alguém no meio de tanta violência, tanto sangue jorrando). O brasileiro Rodrigo Santoro faz um papel relativamente pequeno mas importante que é o rei persa (a voz é dublada por outro, provavelmente mixada com a sua). Aparece irreconhecível, todo cheio de piercings, muito maquiado, num carro que parece coisa de Escola de Samba. O fato de que não fica ridículo é uma prova de sua competência. Consegue criar um vilão delirante sem perder a dignidade. Mas foi um tremendo risco. Aliás como todo o filme que esta sempre prestes a escorregar e virar piada. Milagrosamente consegue impressionar e criar um novo padrão para esse tipo de aventura. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 30 de março de 2007)