Crítica sobre o filme "Alice no País das Maravilhas":

Eron Duarte Fagundes
Alice no País das Maravilhas Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 15/07/2010

O cineasta norte-americano Tim Burton vai à toca de Alice, uma das mais famigeradas personagens da literatura infanto-juvenil, para buscar inspiração para suas novas e delirantes fantasias. Alice foi criada pelo escritor inglês Lewis Carroll e cruza as páginas de dois livros que serviram de base ao roteiro do filme de Burton: Aventuras de Alice no país das maravilhas (1865) e Através do espelho (1872). O filme de Burton, Alice no país das maravilhas (Alice in wonderful; 2010), mistura livremente evocações das duas narrativas de Carroll, talvez mais da segunda, mas usa de bastante liberdade de texto e situações para dar deslumbramento visual às criaturas do escritor que no século XIX teve nas ilustrações do desenhista cego de um olho John Tenniel acompanhamento à escrita das publicações.

Pode-se dizer que Alice no país das maravilhas busca recapturar o filão de barroquismo imaginativo, que lhe rendeu um de seus trabalhos básicos, Edward mãos de tesoura (1991). É claro que Burton não reedita a mesma densidade. Mas a forma solta, alucinada com que Burton expõe suas visões das estranhas criaturas de Carroll não deixa de fascinar o espectador pela riqueza de algumas concepções cinematográficas a que se acresce a eficácia com que Burton insere em sua linguagem a filmagem em 3-D, que se vai tornando um lugar-comum mas que nas mãos criativas de Burton rende algo mais consistente e diferenciado.

Como muitos filmes de essência visual, Alice no país das maravilhas terá dificuldades de ser reduzido a termo escrito, é complicado descrever o figurativismo desregulado e onírico das figuras em cena. Quem leu os clássicos de Carroll, topará no filme de Burton uma leitura tão reverente quanto pessoal da imaginação que o escritor expôs literariamente.

Com seu belo tom de fábula irritadiça, com suas levezas ingênuas que provocam o arcaico e o anacrônico, Alice no país das maravilhas traz um Johnny Depp em seu melhor estado, refina a maquiagem das rainhas vividas por Helena-Bonham Carter (a Vermelha) e Anne Hathaway (a Branca) e surpreende com a singela beleza cênica de Mia Wasikowaska no papel de Alice. Um entretenimento que traz ao mesmo tempo o luxo amado pelo público de Hollywood e a criatividade que um autor como Burton pode extrair deste luxo.