Crítica sobre o filme "Avatar":

Rubens Ewald Filho
Avatar Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/12/2009

Valeu o esforço, os anos de preparação e os 230 milhões de dólares de orçamento. Avatar é espetacular! A melhor aventura dos últimos anos e provavelmente o melhor filme do ano. Saio entusiasmado da pré-estreia pública (simultaneamente em todo o mundo) do novo trabalho de James Cameron, o primeiro desde seu triunfo em Titanic (1997), vencedor de 11 Oscar®. Desde então se dedicou a fabricar a tecnologia que precisava para contar esta história (que você deve assistir em 3D, mas se possível também na tela grande do IMAX), que resulta num filme antes de tudo oportuno.

Sua mensagem ecológica chega justamente no momento em que acontece o Encontro em Copenhagen e não é possível mais esconder os efeitos da destruição do planeta até mesmo em nossa cidade de São Paulo e suas chuvas catastróficas. Este certamente é o maior épico ecológico que o cinema já fez e onde pela primeira vez os invencíveis “marines” americanos levam uma surra e saem derrotados. Me pergunto se isso pode ter influência na bilheteria americana do filme!?

Primeiro vamos saudar a tecnologia (o filme passa no Bourbon Imax em versão original legendada e não dublada como geralmente sucede em 3D, as legendas são claras e se ajustam conforme a ação , indo para lados diferentes da tela grande). Difícil imaginar o filme numa versão normal, embora não tenha truques baratos. Um ou outro objeto é jogado no espectador, como as bombas de gás, há uns detalhes visuais meio 2001 mas o efeito maior é o de colocar figuras nos cantos extremos, em primeiro plano – coisa rara também.

É impressionante o resultado, de tal maneira que eu fiquei meio perdido nos primeiros minutos (as pessoas que chegavam atrasadas também incomodavam) até mergulhar na história. Na verdade, o roteiro básico não é nada de novo, usando velhas fórmulas. Assim o herói Jack Sully (o bom australiano Sam Worthington no Exterminador do Futuro 4) é um fuzileiro que é mandado para o planeta Pandora (o nome já tem sentido, recordem a Caixa de Pandora da mitologia) onde humanos estão fazendo uma exploração de valioso metal. Só mais tarde é que ficamos sabendo que em 2154 a Terra já esta exaurida e inabitável. Não se dá com muitos detalhes, mas o fato dos homens já destruíram o planeta, como já estão fazendo atualmente é suficiente. A companhia mineradora utilizava mercenários e meios militares para dominar o povo local, que parecem ser primitivos e ainda lutam com arco e flecha. Eles cultuam uma árvore sagrada que parece ser um “network” de todas as coisas vivas do presente e passado, obviamente um símbolo claro de uma figura mística. Jack ficou paralítico e chega em cadeiras de rodas para ajudar no projeto científico em que estava seu falecido irmão gêmeo e que é dirigido por Sigourney Weaver, com uma aparição muito simpática da estrela, relembrando sua amizade com Cameron desde Aliens, o Resgate. Aliás Cameron, além dela, traz também em papéis positivos outra atriz de Aliens, Michelle Rodriguez. Bom, o herói é usado pelos militares para se infiltrar no povo inimigo e assim descobrir seus pontos fracos para que possam ser destruídos e a árvore arrasada, que possui muito mineral nas suas raízes. Isso é feito por um sistema de avatares, ou seja, foi desenvolvido um ser mestiço de humano com os Na´vi, uma figura imensa de vários metros de altura, tonalidade azul, rosto com nariz de felino e grande força. A impressão esquisita dessas figuras nos trailers, logo se dissipa e fica fácil se acostumar com eles e mesmo gostar deles, da sua simplicidade e humanidade. Sim, porque eles são mais humanos do que os próprios seres humanos. Assim, Jack se transforma no seu avatar. Ele fica dormindo numa espécie de cocoon, onde seu espírito vai para o corpo da criatura e vai realizar sua perigosa missão.

É claro que ele vai se apaixonar pela mocinha (o filme de uma certa altura em diante é todo em animação, usando atores como modelos, mais ou menos como nos trabalhos de Robert Zemeckis) e de repente se defronta com a violência, estupidez e selvageria dos seus superiores (substanciados na figura de um Coronel Miles, interpretado pelo ator da Broadway e conhecido vilão Stephen Lang). E tem que tomar uma posição. Depois de sua breve introdução, o filme envereda totalmente pela animação e nos vai conquistando através de uma incrível direção de arte, que mistura imagens autênticas de cachoeiras e montanhas com figuras mitológicas, pássaros voadores que lembram vagamente dinossauros, variantes de rinocerontes, panteras, todos muito bem concebidos e interessantes. Pode ser que alguns não consigam mergulhar nesse universo e alguns possam considerá-lo kitsch. Eu mergulhei de cabeça e acreditei inteiramente na mensagem, torcendo pelos nativos, pelo romance do casal central e na última meia hora participando e vibrando da grande batalha aérea. É impressionante a concepção gráfica das imagens e do universo criado para o filme (sem dúvida, bebendo em várias fontes, inclusive suas pesquisas no fundo do mar, que mereciam por sinal serem discutidas depois.

Este é um filme que deveria ser exibido junto com seu Making of também nas salas!. Tão difícil e sensacional é o resultado e penoso deve ter sido sua realização. O ponto fraco de Cameron sempre foram os diálogos nada brilhantes e aqui eles são menos penosos que em Titanic, mas também não são o ponto alto e como diretor de atores melhorou muito também. Mas é um grande contador de histórias e um técnico excepcional, que consegue nos trazer a Terceira Dimensão para o espectador, nos tornando parte integrante da história. Ou seja,uma grande história, importante e empolgante. Num filme sensacional. Que é para ser visto mais de uma vez.