Crítica sobre o filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas":

Eron Duarte Fagundes
Batman - O Cavaleiro das Trevas Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 01/09/2008

Batman —o cavaleiro das trevas (The dark kinght; 2008), dirigido pelo norte-americano Christopher Nolan, impressiona por imprimir na tela um dos mais perversos filmes da atual temporada de cinema; é uma perversidade amoral, cínica e estética, onde tudo o que importa é mostrar cinematograficamente os impulsos maus dos seres humanos e como eles se descontrolam facilmente depois dos primeiros empurrões. Nolan foi endeusado no passado por um filme de firulas narrativas como Amnésia (2000), mas é em O cavaleiro das trevas que ele atinge seu ápice com uma narrativa trevosa e perturbadora desde a medula do celulóide.

Antes de mais nada, o cineasta teve a morte de contar com o ator Heath Ledger em seu grau máximo de inspiração no papel de Coringa, o vilão que enfrenta eternamente a Batman; sendo um filme da crueldade, nada mais necessário do que estar Coringa em seu mais puro desequilíbrio e insanidade, que é o que consegue Ledger com suas máscaras e trejeitos aparentemente desorientados mas sempre muito estudados. Falecido em janeiro de 2008 em face de overdose de medicamentos (suicídio ou acidente?), Ledger desde já criou uma aura mítica de demência em torno tanto da personagem de seu Coringa quanto da persona interpretativa do próprio Ledger; Coringa teria matado e Ledger? Talvez seja um exagero, mas passará miticamente à história do cinema. Em entrevistas antes de sua morte, Ledger disse ter-se inspirado em outra interpretação demencial para criar seu Coringa, aquele de Malcolm MacDowell como o malvado Alex em Laranja mecânica (1971), de Stanley Kubrick; talvez, mas o que vemos na tela é algo tão pessoal e criativo de Ledger que estamos diante de uma outra coisa; e também, lembremos, as coisas com Kubrick e MacDowell são mais cerebrais e políticas. Ledger deixa o vulcão implodir dentro dele afrontando todas as lógicas.

Ledger é, pois, o centro de interesse que alça Batman —o cavaleiro das trevas a um patamar surpreendente. Mas a montagem vertiginosa buscada por Nolan, a música cortante de Jonas Newton Howard e Hans Zimmer e o sinuoso roteiro extraído de O longo dias das bruxas, quadrinhos de Jeph Loeb e Tim Sole, são elementos de produção que ajudam a conferir uma energia tétrica a esta aparentemente descompromissada aventura. Nolan logra chegar a um ponto de perturbação do espectador que faltou a outras aventurinhas aqui e ali recebidas com simpatia por grupos de cinéfilos: Hancock (2007), de Peter Berg; O incrível Hulk (2008), de Louis Leterrier; e Indiana Jones e o reino da caveira de cristal (2008), de Steven Spielberg.