Sem duvida, é mesmo o melhor filme de James Bond nos últimos anos. Sou daqueles que não gostaram da escolha do loiro de olhos azuis, cara de mau, Daniel Craig para substituir Pierce Brosnan (que parecia o ideal para o papel). Na verdade, quando conheci Craig em Estrada para Perdição escrevi, que ali surgia um grande ator e que iria fazer ainda muito sucesso, mesmo que fosse em papeis de bandido. Mal podia imaginar que um dia virasse 007 e o mais engraçado, continuasse bom ator.
A explicação para a mudança é simples. Não há duvida que o mundo mudou muito nesses 40 anos em que o personagem existe. Mudou para pior. Acabou a elegância, o charme, o culto da beleza, o mito dos britânicos. Aceita-se a violência como coisa normal, a grossura como necessidade de sobrevivência e os atos terroristas como coisa do cotidiano. Assim resolveram reinventar James Bond para uma platéia contemporânea, em parte voltando ao personagem como havia sido concebido por seu autor Ian Fleming (é surpreendente como este filme segue de forma bastante fiel o livro que por sinal foi o primeiro com Bond, só substituindo os espiões por algo mais atual. Aliás esqueçam da versão satírica de 67, que não tinha nem pé nem cabeça). Assim o filme começa em preto e branco, com Craig/Bond já matando a sangue frio um agente e fazendo jus a seu titulo de 00 ou seja, com licença para matar. Os produtores apostaram que o publico já estava pronto para aceitar um herói matando sem maiores explicações e acertaram. Dali em diante, o novo Bond vai usar sua licença com freqüência, agindo friamente e chauvinisticamente com as mulheres, até mesmo porque o roteiro (no qual tem até a mão o recente ganhador do Oscar Paul Haggis, de Crash) irá criar para ele uma historia de amor (ele irá se apaixonar por Eva Green, de Cruzadas e filha da ex-estrela francesa Marlene Jobert). Um trauma do qual era irá custar a se recuperar (isso veremos no próximo filme previsto para novembro de 2008).
O fato é que, muito bem dirigido por Campbell (de 007 contra Goldeneye), o filme tem todos os elementos para divertir e envolver a platéia. Foi rodado em Veneza, Karlov Vary (Republica Checa onde fica o Cassino do Título), Londres e Bahamas. Não tem a presença clássica de Miss Moneypenny, a secretária nem de Q, o especialista em armas (até porque evitam que ele usem geringonças modernas apesar de um anti-veneno administrado na emergência). Mas Judi Dench volta como a chefona M.
Todas as cenas de ação (e são várias) são empolgantes e funcionam muito bem (o clímax é um velho palazzo que entra em colapso em Veneza). A trama não é lá essas coisas, já que basicamente lida com um banqueiro que financia terroristas e deve impedir que ele ganhe num jogo num cassino (e assim pagar as dividas que teve quando um plano de explodir novo avião não deu certo, porque Bond entrou na jogada). O jogo original era o hoje fora de moda Baccarat substituído aqui pelo Pôquer (daquele estilo que se joga na televisão americana). Também o tema musical original é usado discretamente e deixado para o final, enquanto a canção tradicional é You Know my Name, de Chris Cornell não me ficou registrada na memória.
Mas o filme sim, como aventura o novo James Bond é muito competente e Craig poderá ter vida longa no personagem.