A atriz norte-americana Julia Roberts seria uma estrela hollywoodiana em decadência? É o que se depreende de seu desempenho morno e choramingas em Comer rezar amar (Eat pray Love; 2010), dirigido por Ryan Murphy. Ela continua bonita na maturidade, tem aqueles seus lábios característicos que pode dar vontade de morder e desembaraça-se com facilidade dos modelitos dramáticos que os clichês do cinema americano lhe impõem; mas o anacronismo de sua interpretação é um dado e ela está longe do frescor de seus melhores anos. Certo: Julia nunca foi uma intérprete de estofo, sempre se manteve à distância da criatividade interpretativa de Meryl Streep, por exemplo, mesmo uma Meryl que em alguns momentos recentes pareceu pegajosamente exibicionista. Mas em Comer rezar amar Julia aparece no quadro cinematográfico como um dos muitos elementos de mofo da narrativa de Murphy.
O que torna Comer rezar amar ainda mais constrangedor é o esforço de Murphy por dar à personagem de Julia uma densidade existencial que, malograda, se caricaturiza dolorosamente. Julia vive uma mulher em crise espiritual depois do fracasso de seu casamento que sai pelo mundo em busca de encontrar-se; passando pela Itália e indo ter à Índia, ela topa com um brasileiro que, como ela, também guarda autorressentimentos e vê num novo relacionamento a possível felicidade. A viagem física do conhecimento é excessivamente primária e medíocre para que o espectador possa interessar-se com inteligência pelos dilemas da mulher; frouxo em sua montagem, débil em suas interpretações (até o bom ator espanhol Javier Bardem está perdido) e tosco em seu roteiro e diálogos, Comer rezar amar acaba sendo para o observador cinematográfico uma prece para que o tempo escoe logo enquanto se está na sala de projeção.
Elementos como a música brasileira da Bossa Nova e o trecho da historinha do relacionamento do brasileiro de Bardem com seu filho adolescente (em Tropa de elite 2, 2010, do brasileiro José Padilha, se insere também a relação entre o pai-policial e o filho adolescente, mas Padilha sabe fazer melhor as coisas para evitar o melodrama raso) ajudam o filme de Murphy a resvalar para o artificioso e o ridículo, que é o que no fim e ao cabo vai dar Comer rezar amar. E cinematograficamente penar.