Crítica sobre o filme "Coração Louco":

Eron Duarte Fagundes
Coração Louco Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 06/04/2010

O ator Jeff Bridges é a essência de Coração louco (Crazy heart; 2009), o primeiro filme rodado por Scott Cooper que é também o autor do roteiro, outro dos trunfos da realização. Jeff empresta carnalidade e interesse à personagem dum cantor country em sua fase decadente consumido pela bebida e pelo nomadismo de viver a que se entrega em suas andanças musicais; a caracterização de Jeff evoca a que ele próprio teve em Cidade das ilusões (1972), de John Huston, obra na qual Coração louco bebe um tanto de sua inspiração ao retratar o desespero silencioso de um homem diante das ilusões sociais que lhe são impingidas.

É verdade que Coração louco nunca chega a deslanchar inteiramente como filme. Permanece sempre num limbo emocional e crítico: prefere aquietar-se timidamente, sem riscos, do que alçar voo: Jeff, sabe-se, está bem acima das possibilidades do filme que está representando. Porém, Coração louco cumpre com honestidade e alguma sensibilidade a necessidade de expor as dificuldades de um artista de lidar com os elementos de sua própria vida; contrapondo as evoluções da arte da personagem, Cooper articula em cena suas esparsas e efêmeras relações com uma jornalista e seu filho, prejudicadas por sua condição de alcoólatra; Maggie Gylenhaal vive magnificamente a repórter apaixonada pelo artista, criando com Jeff um dueto notável.

Oscilando entre um olhar perverso e alguma piedade para com sua criatura, Coração louco é um autêntico retrato do artista enquanto vagamundo. (Eron Fagundes)