Crítica sobre o filme "Desinformante, O":

Eron Duarte Fagundes
Desinformante, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 25/03/2010

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O jogo de aparências e a narrativa de pistas falsas e complexas (apesar de ingênuas) ambiguidades de O desinformante! (The informant; 2009), uma perplexa realização do norte-americano Steven Soderbergh, parece extraído de um filme de outro realizador americano, David Mamet. É como se a ficção cerebral de Mamet invadisse o universo cinematográfico do cineasta italiano Damiano Damiani tal como era concebido nos anos 70. As reviravoltas e malandragens das ações das personagens criam em O desinformante! uma tensão que oscila entre o intelectual e o metafísico; com diálogos curvilíneos, letreiros grandiloquentes à maneira do franco-suíço Jean-Luc Godard, sinuosos deslizares dos atores por cenários e enquadramentos (Matt Damon tem aqui momentos de soberba criatividade), O desinformante! transpõe para a mente do próprio espectador a paranoia doida que recobre as criaturas da ação dramática da imagem: não sabemos mesmo o que se passa, senão que alguém nos está surrupiando a autêntica informação.

Diante do observador, desfilam situações bastante triviais no cotidiano de quem vive na sociedade capitalista de hoje. Falcatruas financeiras que envolvem executivos de grandes corporações (aqui, ligadas ao agronegócio do milho), agentes do governo e investigadores federais; Mark Whitacre, uma figura real da década de 80 americana vivida com intensidade por Damon, vai desfilando seus relatos, entre o inventado e o possivelmente acontecido, para transtornar a informação que chega ao espectador, simulando o mesmo processo de confusão e camuflagem da realidade onde depoimentos e visões da mídia se articulam desarticulando e pondo fogo nos papéis para que ninguém saiba mesmo o que de fato aconteceu.

Se os dois filmes que compõem a cinebiografia do guerrilheiro argentino Ernesto Guevara, Che: o argentino (2008) e Che 2: a guerrilha (2008), representam as concessões e as superficialidades fáceis do cinema de Soderbergh, este O desinformante! é, como já ocorrera em Confissões de uma garota de programa (2009), um registro mais autêntico do que o cineasta americano pode fazer com seu estilo de filmar.