As duas faces da lei (Righteous kill; 2008), produção norte-americana dirigida por John Avnet, foi feito quase exclusivamente para o estrelismo dos intérpretes centrais, Robert de Niro e Al Pacino, certamente bem abaixo daquilo que já renderam em seus melhores dias cinematográficos e com um tom de sangue mofado em seus deslizares diante das cãmaras tão constrangedor quanto a própria narrativa (frouxa) de Avnet; velhos senhores, De Niro e Pacino, mas Pacino dribla melhor seus próprios vícios e cacoetes trazidos pela idade porque seus recursos estéticos são superiores aos de De Niro.
Pacino e De Niro tiveram um momento de parceria cênica exemplar em Fogo contra fogo (1995), belo policial de Michael Mann. Avnet é um herdeiro torto do cinema de Martin Scorsese, por exemplo, e sua utilização do ator habitual de Scorsese, De Niro, só revela o fosso que separa o grande talento do autor de Motorista de táxi (1976) e a miopia de artesão de Avnet; os aspectos fascistóides da vida marginal e policial americana, que Scorsese geralmente resolve com uma ambigüidade de filmar muito pessoal e a criação de um clima narrativo original e perturbador, são rasteiros e aborrecidos demais em As duas faces da lei.
Ao estabelecer a ponte entre o crime e a lei, fazendo verter para os policiais (tão diferentes um do outro) o lado sombrio da ilegalidade, Avnet perde a oportunidade de fazer uma reflexão que poderia ser uma digna herdeira de Scorsese ou Francis Ford Coppola. Parece que o diretor se amedrontou diante da dimensão de seus dois atores ou preferiu não complicar muito visando ao entendimento imediato do público. O que é questionável possa acontecer.