Crítica sobre o filme "Gran Torino":

Eron Duarte Fagundes
Gran Torino Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 16/07/2009

Clint Eatswood anunciou que sua última participação no cinema como ator é a que se vê em Gran Torino (Gran Torino; 2008). Daqui para a frente ele só dirigirá filmes. Para quem pensa, como eu, que Eastwood é melhor ator do que diretor, esta decisão é de se lamentar. E sua admirável interpretação em Gran Torino só pode confirmar estas lamentações: o intérprete Eastwood parece no auge de sua forma e a precisão com que ele articula seus maduros gestos dramáticos carrega no colo a capacidade de emocionar da narrativa.

 

 

Em linhas gerais, o bem-comportado estilo clássico de filmar de Eastwood retorna em Gran Torino. Ele obedece sisudamente às regras da gramática cinematográfica e nunca arrisca um plano que possa fugir do lugar-comum. O roteiro é bem organizado e sua direção de atores é concisa e acertada. Mas o que eleva o nível de Gran Torino para um melodrama um pouco melhor do que A troca (2008), outro Eastwood visto este ano, é uma certa consciência crítica do cineasta sobre seus próprios estereótipos e a inserção do humor na visão das relações humanas racistas no meio americano.

A história contada por Eastwood trata dum veterano da guerra da Coreia e começa na cena da missa em que se vela o cadáver da esposa deste veterano. Numa destas armadilhas do destino, este viúvo amargo e neurótico de guerra descobre que seus vizinhos são orientais, como os que ele enfrentou na guerra; seu conturbado racismo inicial vai transformar-se numa amizade especialmente com o casal de irmãos vietnamitas. Eastwood como diretor não aprofunda muito os temas que aborda (nem aqui, nem em nenhum de seus filmes), mas em Gran Torino seu desempenho é extremamente tocante. O gesto suicida final da personagem de Eastwood tem seu quê de simbólico, principalmente ao considerar-se sua desistência das interpretações: talvez o velho caubói esteja cansado de heroísmos e bravatas e entregou os pontos a coisas mais humanas, como desistir de valentias inúteis. A sequência final liga-se à primeira, ambas se passam numa missa de velório: no final é o cadáver da criatura de Eastwood que está ali, mas o discurso do jovem padre mudou e perdeu seu academicismo convencional. O que não ocorre de todo com o cinema de Eastwood.