Crítica sobre o filme "Harry Potter e a Ordem da Fênix":

Eron Duarte Fagundes
Harry Potter e a Ordem da Fênix Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 28/11/2007

Antes de mais nada, a série multimídia Harry Potter é uma máquina de fazer dinheiro. Para a autora dos livros que originaram o fenômeno, a britânica J. K. Rowling, principalmente, e também para a indústria do cinema que se tem habilitado a converter em imagens as aventurinhas bobas, infantilóides mesmo do bruxo inglês. Harry Potter e a ordem da Fênix (Harry Potter and the order of the Phoenix; 2007), o novo filme extraído do precário universo literário de Rowling e agora dirigido por David Yates, um artesão míope para qualquer invenção fílmica pelo que se vê na tela, não foge à regra: cumpre seu papel de angariar as crianças já viciadas na figura visual de Harry, que vai crescendo fisicamente mas emocionalmente nunca sai de seus pequenos aninhos (é o Peter Pan de nossa época); Harry Potter foi inicialmente literatura, mas se tratava duma narrativa de truques primários (na verdade pasteuriza aquilo que as mil e uma noites ou Quixote faziam com muito maior categoria), mas é uma escrita que só poderia existir na era do cinema: só as sensações óticas mais primitivas e submissas do espectador comercial poderiam permitir a existência de tal figura. É como se Joanne Kathleen Rowling escrevesse seus livros para a tela de cinema e não para a página branca.

Muita gente se queixou de que Harry Potter e a ordem da Fênix utiliza descaradamente o linguajar de Harry Potter tornando-se obscuro para quem não está acostumado com seu universo: seria um filme para aficcionados. Na verdade, as crianças não se importam muito com este linguajar esfumaçado e tolo inventado pela escritora; o que atrai os pequenos, mais do que uma história bem contada, é a sensação de aventura e uma magia primitiva que é embutida na forma como se educam os jovens assistentes que vêem imagens em movimento nos dias de hoje. Acho que muitas vezes os analistas levam muito a sério uma fita como Harry Potter e a ordem da Fênix. Querem significados onde só há significantes (signos infantis, infantilóides). A narrativa entra direto no assunto porque não precisa de mais para penetrar nas sensações das crianças: elas, cérebros em formação, não reclamam de obscuridade alguma.

Harry Potter e a ordem da Fênix invade a questão da educação ao expor seus bravos personagens adolescentes a uma interventora má. De certa maneira, isto acontece de vez em quando nos colégios da vida real. Mas o fato não implica qualquer contato do filme com um realismo crítico cinematográfico.

“— Veremos você em breve, cara — disse Rony ansioso, apertando a mão de Harry.” É o que pensam também os fãs após a sessão de mais uma aventura de Harry Potter.