Crítica sobre o filme "Hellboy II: O Exército Dourado":

Wally Soares
Hellboy II: O Exército Dourado Por Wally Soares
| Data: 06/01/2009

Num exemplo raro de seqüência, Hellboy II - O Exército Dourado, dirigido pelo visionário Guillermo del Toro (O Labirinto do Fauno), é um exercício imaginativo de cinema e um complemento formidável a todos os temas sugeridos tão bem no filme original. No primeiro arrojado filme sobre a criatura aparentemente demoníaca, mas cheia de coração denominada Hellboy, del Toro põe em mesa muitos dos temas dos quais se aprofunda com uma maior desenvoltura nessa sua continuação. Se no primeiro filme tínhamos ligeiros e tímidos encontros de Hellboy com o público, aqui sua imagem é finalmente lançada sobre a humanidade (provocando um caos esperado e também muito bem armado pelo roteiro). E se pressentíamos o grande amor entre Hellboy e Liz, neste filme tal relacionamento torna-se um dos grandes focos. Com o sucesso do primeiro filme, del Toro pôde também exercitar sua imaginação espetacular a uma escala muito mais grandiosa, e o que constrói com sua especial criatividade aqui é nada menos que merecedor de aplausos.

A escala do filme é, portanto, excepcional. Os aspectos técnicos nunca decepcionam e apenas impressionam, como numa seqüência sensacional que se passa num mercado cheio das criaturas mais bizarras que já se viu no cinema. Tudo fruto da mente de del Toro, que não conhece limites na sua especial construção de mitos, imagens e personagens. A maquiagem se torna, com isso, uma das grandes virtudes do filme. Meticulosa, original e em vezes até assustadora, lembra o maravilhoso trabalho feito no filme anterior do cineasta, o magistral O Labirinto do Fauno. E se estamos comparando técnicas, a direção de arte aqui é tão boa quanto, numa construção incrível de locais misteriosamente instigantes e fantasticamente imaginados. Ainda com alguns figurinos especiais, uma boa fotografia e um senso de humor estupendo, todo o clima de Hellboy II é de pura descontração, divertimento e muita adrenalina quando del Toro decide aumentar o volume da ação, e neste sentido, tanto os efeitos sonoros quanto os magníficos efeitos visuais merecem especial menção.

Del Toro cria, portanto, algumas cenas de ação muito interessantes do ponto de vista técnico e verdadeiros exemplos de entretenimento tendo em vista o impacto sob a audiência. O fantasioso aqui é elevado ao máximo e a criatividade não conhece limites. A composição de personagens, cenários, criaturas e desafios é sempre um deleite. Para equilibrar tudo isso, e mostrar o quanto é também um diretor apaixonado, del Toro trabalha muito em cima de seus personagens e suas relações. Aqui, não é só Hellboy e Liz apaixonados e sofrendo com os lances amorosos de um casal, mas um sentimento realmente divertido que brota de Abe Sapien (ótimo) à Princesa Nuada. Isso mergulha o filme diversamente num clima muito melancólico romantizado. Pode estranhar de início e causar até certa irregularidade, mas em síntese é um ótimo meio de descontração e no favorecimento de personagem à ação descerebrada. E é ótimo ver que alguns blockbusters ainda possuem a cabeça no lugar a ponto de não esquecer que se precisa ter um roteiro também. E aqui o roteiro é bem trabalhado e bastante genuíno em seu sentimento, ainda que tenha defeitos superficiais.

Hellboy II - O Exército Dourado é por isso cinema de uma qualidade incontestável e um conto de fantasia da mesma forma que é uma história de amor, uma comédia eficiente e uma alegoria de moralidade e urgência global. O filme te faz rir, te emociona e te empolga. E é muito raro vermos tanto sentimento ser exalado de um único filme, ainda mais um que, na fábrica de Hollywood, tem como natureza esquecer dos elementos básicos que movem uma narrativa de verdade. Mas não esquecemos que del Toro é um diretor diversamente genial e primordial com sua imaginação para o cinema. E, ao lado do seu elenco bastante competente, que incluem Ron Perlman (Colapso no Ártico) impagável como Hellboy e Doug Jones (Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado) brilhante nos seus personagens diversos, temos uma obra em completa sincronia que pode em vezes cair no irregular ou no excesso, mas nunca esquece que cinema é muito mais que uma atração e puro efeitos especiais. A viagem aqui é sobre muito mais do que isso. Então, ao sair da sessão, ao contrário do que ocorre tantas vezes com blockbusters, desejamos que tenha sim mais uma continuação, apenas para vermos a mesma eficiência ser empregada novamente. E isso é refrescante.