Crítica sobre o filme "Homem de Ferro":

Wally Soares
Homem de Ferro Por Wally Soares
| Data: 21/09/2008

Eis aqui um filme que não poderia ter sido feito há uns 10 anos. Se tivesse, provavelmente não estaria tão polido, tão visualmente contundente, e com toda certeza perderia toda a sua urgência. O que ajuda Iron Man a ser um filme tão bom é o quanto ele é atual, o quanto possui urgência e usa de alta tecnologia para arquitetar uma história divertida e sedutora, ao mesmo tempo que faz um ótimo utilizo de seus efeitos especiais bombásticos, nunca exagerando na dose. O impressionante blockbuster de Jon Favreau é também um sopro admirável no gênero. Poucos filmes de super-heróis ousam ao ponto de criarem paralelos virtuosos sobre a realidade atual, e ainda arquitetar uma possível realidade paralela, oferecendo a resposta para tantos problemas políticos e bélicos que rondam, em especial, os Estados Unidos e seus "inimigos". O personagem de Stark é o de um típico americano rico lucrando em cima das desgraças do efeito do poder bélico dos Estados Unidos, que nesse caso é impulsionado justamente por Stark e sua inteligência tecnológia. É refrescante também encontrar em Tony Stark um sujeito completamente atípico, seja em seu modo de viver ou em como encara seu dom. Stark é o propulsor do longa. Afinal, em um filme cujo super-herói usa uma armadura de ferro que não demonstra um pingo de emoção, o modo de cativar a audiência seria investindo no personagem antes da transformação. E é aí que Robert Downey Jr. entra e faz sua magia. Charmoso, carismático, sarcástico e extremamente divertido, Downey Jr. é a alma do filme de Favreau e demonstra, aqui, porque é um ator tão experiente e tão bom no que faz, ecoando o talento exibindo ano passado, quando despontou com pelo menos três papeis excelentes. O seu Stark é completamente cativante, entrega diálogos primorosos e o filme, grande parte graças a ele, é um muito bem humorado, se tornando efficiente no quesito fazer rir. Então nos simpatizamos por Stark e admiramos a sua grande realização sobre o qual é seu destino. O admirável é que o filme nunca cai no melodrama e não tem o intuito de entregar lições de moral. O filme possui sua urgência construindo sua história de uma forma que entretem. Eles não querem transformar Stark em santo, e não querem mudar a opinião de ninguém ou emocionar. O intuito do filme, além de poderoso entretenimento, é oferecer um pano de fundo atual e urgente, ao mesmo tempo que construir uma realidade autêntica para um personagem tão fantasioso.

 

Por isso é de impressionar o quanto o filme seguiu nos passos de Batman Begins para arquitetar um passado plausível para o personagem, uma motivação fantástica para sua transformação e com isso, torná-lo um personagem completamente aceitável e memorável. Isto não ocorre porque quando ele usa a armadura ele arrebenta tudo e salva o mundo, mas porque existe alguém dentro daquela armadura, e Tony Stark, além de totalmente humano, possui caracerísticas empregada a eles raras em filmes do gênero. Somos então conquistados por elementos muitas vezes subestimados por cineastas que realizam filmes ocos de apenas ação descrebrada. O filme de Favreau tem textura, estilo, significado, alma e é muito, muito cool. Não consigo resistir ao charme infalível do protagonista e seus diálogos, sua relação amorosa discreta e quase transparente com Pepper Potts, que ganha ainda mais charme com a atuação singela e conquistadora de Gwyneth Paltrow, e o vilão ótimo criado por Jeff Bridges. Seu Obadiah Stane é completamente plausível e autêntico, graças à diversão e paixão do ator ao construi-lo e a forma habilidosa com a qual o roteiro vai moldando seu destino.

 

O embate entre o Homem de Ferro e o “Iron Monger” quando ainda estão despidos de armadura já inicia-se memorável e competente e só ganha na adição das ferramentas ação ótima e um senso de entretenimento ainda mais grandioso e oportuno. É discutível que o clímax seja, na verdade, um pouco anti-clímax, mas ainda assim não perde o brilho e a desenvolutura, méritos da inspirada direção de Favreau e o roteiro que, quase sempre tendo algo a dizer, nunca cai na futilidade. O filme é, por isso, uma injeção saudável no gênero, informando, conquistando e entretendo, acima de tudo. A visão de Favreau é uma que fortalece o quanto a tecnologia destrói e o quanto ela pode, também, servir para o bem. Pelo menos ela serviu para deixar seu filme muito divertido e sensacionalmente belo nos aspectos visuais e principalmente sonoros. Ver Homem de Ferro é extremamente gratificante. Ver um blockbuster e ainda termina-lo completamente maravilhado é ainda mais.