Crítica sobre o filme "Indomáveis, Os":

Eron Duarte Fagundes
Indomáveis, Os Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 05/02/2012

Certa vez o cinemaníaco gaúcho André Kleinert observou que o problema no cinema não são os clichês mas o que fazer com estes clichês. André talvez quisesse insinuar que se pode montar um filme em que cada cena é um clichê mas a criatividade do diretor (talvez pela montagem, talvez por outro recurso formal qualquer) pode atribuir significado novo a coisas velhas e mofadas. Não me parece o caso de Os indomáveis (3:10 to Yuma; 2007), dirigido pelo norte-americano James Mangold.

O filme parte de um conto do americano Elmore Leonard, de 1953, que já foi levado ao cinema pelo também americano Delmer Daves em 1957 (o título brasileiro do filme de Daves é Gigante e sanguinário, mas o título original do livro, do filme dos anos 50 e do atual filme é o mesmo: Thirteen-ten to Yuma). Assim, a realização da Mangold é ao mesmo tempo uma das tantas refilmagens em que Hollywood se esmera na busca de capturar seu passado. Elmore é um escritor pulp, ou seja, faz uma literatura não muito estudada pela crítica oficial mas cuja seiva narrativa tem a potência da vida, literatura valorizada no cinema especialmente pela arte de Quentin Tarantino. Daves fez lá seus faroestes na época de prestígio do gênero, mas ninguém ousou compará-lo aos grandes, a John Ford ou Sam Peckinpah. Esta arte de segunda linha parece ser perseguida pelo estilo de filmar de Mangold, ainda que neste filme sua ambição de cineasta se extravase numa produção luxuosa e caprichada; mas, como um bom cara-de-pau de segunda linha, ele não se peja de pôr diálogos e situações para lá de manjadas.

Numa cena em que o xerife e seus homens entram no recinto para que o capturador entregue o famigerado bandido à lei, um dos homens se chama Sam Fuller. É outra referência cinematográfica forte de Mangold. O norte-americano Samuel Fuller fez filmes violentos e diretos, mas os lugares-comuns do faroeste tinham um outro sentido em filmes como Matei Jesse James (1949). O mito representado pelo falsificado facínora interpretado por Russell Crowe está longe da transparência mais aguda conferida aos mitos do faroeste em Sam Fuller. Vê-se logo que Mangold não sabe muito bem o que fazer com seus clichês. O dueto interpretativo entre Christian Bale (visto em O sobrevivente, 2006, do alemão Werner Herzog) e Russell Crowe, apesar de correto, se desgasta logo, tornando-se trivial demais.

Mas o bem-feito americano contido em Os indomáveis deverá atrair o público que se sente bem dentro do já conhecido. Os ferimentos do filme estão dentro dele; é preciso retirar-lhe a casca edulcorada ou os esparadrapos bonitos para ver como o filme de fato quer ser: o lugar-comum sem outra intenção.