Crítica sobre o filme "Invictus":

Eron Duarte Fagundes
Invictus Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 14/06/2010

Em sua cinebiografia do líder sul-africano Nelson Mandela, Invictus (Invictus; 2010), o realizador norte-americano Clint Eastwood está mais convencional do que nunca e apela com excessiva facilidade para as percepções superficiais do espectador. É extremamente incômodo para o pensamento crítico ver como Eastwood vai transformando as questões sociais e políticas da África do Sul num melodrama épico o mais hollywoodiano possível. É verdade que Eastwood sempre adotou um estilo sobriamente clássico, à sombra de seus mestres John Ford, Sergio Leone ou Donald Siegel e nunca foi capaz de transcender para aproximar-se dos cineastas americanos de exceção; mas em Invictus sua conformação a uma narrativa-padrão de efeitos estáticos chega a um de seus tons mais rasos.

Eatswood conta com bons atores. Nelson Mandela tem na pele de Morgan Freeman uma caracterização adequada. Matt Damon como o jogador de rúgbi François Pienaar que se associa ao presidente para, pelo esporte, arregimentar as forças de reconstrução da nação sul-africana não fica atrás da serenidade interpretativa de Freeman.

Há na verdade duas linhas conflitantes onde Eastwood elabora sua personalidade de Mandela. Uma delas é vê-lo como um político bem-intencionado mas populista que se vale do esporte e de seu prestígio junto à multidão para impor sua figura e suas ideias; tanto os militares brasileiros (a seleção brasileira de futebol de 1970) quanto um libertário como Mandela (a seleção sul-africana de rúgbi de 1995) sabem a força do esporte como motivador das massas. A outra linha se concentra na vertente político-intelectual de Mandela; os versos do poeta inglês William E. Henley, que acompanharam o líder sul-africano na prisão, vai mesmo ecoar pelo estádio após a vitória do time de rúgbi, desacreditado e espezinhado como Mandela no cárcere. “Por ser estreita a senda —eu não declino,/ Nem por pesada a mão que o mundo espalma,/ Eu sou dono e senhor do meu destino,/ Eu sou o comandante de minha alma.” (Tradução de André C.S. Masini).

Com suas hesitações, Invictus está mais para uma pelada de rúgbi do que para um poema de Henley.