Crítica sobre o filme "Kick-Ass: Quebrando Tudo":

Eron Duarte Fagundes
Kick-Ass: Quebrando Tudo Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 05/02/2012

Um filme feito com as fantasias e as ingenuidades da adolescência contemporânea, mas onde sobrepaira um olhar crítico por trás da encenação brincalhona e uma invenção cinematográfica constante para driblar os lugares-comuns. Kick-Ass: quebrando tudo (Kick-Ass; 2010), divertida produção anglo-americana dirigida pelo inglês Matthew Vaughn, é este filme que quebra as regras estanques da nossa habitual imbecilidade infanto-juvenil; com ele o cinema de jovens e para jovens se eleva à inteligência. E é também uma mistura delirante da linguagem trêfega e ágil dos quadrinhos com um senso muitas vezes metafórico da linguagem cinematográfica.

Vaughn rodou um tenso e intenso filme de gângster fora dos padrões, Nem tudo é o que parece (2004), e uma fantasia frustrante, Stardust, o mistério da estrela (2007), mas em Kick-Ass ele se supera ao unir seu gosto por uma realidade violenta e sanguinária com a imaginação mais descompromissada, aquela que se escapa da lógica do cérebro. Há em Kick-Ass uma paixão fílmica pelo lúdico, pelo sensorial da imagem, por aquilo que é o imediato da relação da visão humana com o que bate na tela: o espectador é arrebatado pela imagem de extravagância dos tipos e situações, a identificação é intensamente emocional mesmo que o universo onde se passa a história se desligue aparentemente do mundo onde o observador está vivendo. Ao mesmo tempo, Kick-Ass tem uma premissa real que opera por uma significação simbólica na narrativa: Dave é um garoto tímido de poucos amigos e nenhuma garota que, “como a maioria das pessoas de sua idade”, não sabe bem o que está fazendo no mundo, somente existe e ponto; então, para quebrar a rotina, se transforma no atrapalhado super-herói de capa verde Kick-Ass, mas só dá furadas, que são corrigidas por outros super-heróis mais preparados, Big Daddy e sua filha pequena Mindy. Assim, Kick-Ass fala na verdade, e por símbolos, do processo de amadurecimento de um tipo de adolescente mais bloqueado; o que parece dizer Vaughn é que, para enfrentar a vida, o guri comum é um pouco um super-herói, ou seja, o super-herói é na verdade um guri comum que se transcende.

Entre os fascínios interpretativos do cinema americano recente está a atuação do Chloë Grace Moretz no duplo papel de Mindy e da super-heroína mirim Hit-Girl: divertidíssima. É também de realçar que Nicolas Cage, bem dirigido, é despojado dos maneirismos que nos últimos anos ele vinha oferecendo ao espectador.

Assim, Kick-Ass pode funcionar, em separado ou em conjunto, como um divertimento para nossas mentes adolescentes e também como uma alegoria encadeada da convivência social, atingindo em ambos os conceitos em patamar elevado.