Crítica sobre o filme "Mercenários, Os:":

Eron Duarte Fagundes
Mercenários, Os: Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 03/12/2010

Os mercenários (The expendables; 2010) é um dos filmes mais intragáveis do ano, mas é ao mesmo tempo um filme que permite ao espectador divertir-se com seu lado intragável. É um autêntico divertir-se com a ruindade no cinema; algo parecido faz o diretor americano Quentin Tarantino, que utiliza certas coisas rudes e primárias da cultura ocidental, para seus entretenimentos cinematográficos; como, pensa o observador, ter o senso preciso e sarcástico de Tarantino para transformar as desenfreadas tolices do cineasta Sylvester Stallone em Os mercenários numa experiência que vale a pena? É claro que não vale a pena como cinema, mas vale a pena como o não-cinema; qualquer filme vale a pena: senão esteticamente, didaticamente: olha como avacalhar com tudo!

Nos anos 80 Stallone esteve no centro de um cinema comercial voltado para aventuras violentas. Numa época de liberação da censura no Brasil, o pudico ministro Paulo Brossard queria embargar a exibição de filmes violentos como Cobra (1986), do grego George Pan Cosmatos e interpretado emblematicamente por Stallone. Agora Stallone decide ele mesmo dirigir sua retomada das aventuras violentas modelo anos 80, acondicionadas na embalagem visual turbulenta desta primeira década do milênio (de que nem uma obra mais cerebral como A origem, 2010, do americano Christopher Nolan, logra escapar). E reúne seus parceiros geração e um pouco de ideologias: lá está o guru deformado vivido por Mickey Rourke, os músculos defasados de Arnold Schwarzenegger, os sintomas anacrônicos de Bruce Willis, e, claro, Stallone e sua boca torta. Stallone brinca com seu próprio anacronismo: numa cena, alguém se refere a Arnold como o indivíduo que quer ser presidente (zombando da carreira política do ator); lá pelo final, alguém lembra à personagem de Stallone que ela já não é tão rápida, mas isto ultrapassa a criatura, para cair na figura de Stallone, um herói envelhecido (autobrincadeirinha). Estes revisionismos e humor cáustico denotam a influência do jeito Tarantino de filmar, mas infelizmente o pastiche de Stallone padece de inteligência, criatividade e força narrativa. Mas quem se importa, se a diversão está garantida? Vamos brincar, que ninguém é de ferro!