Crítica sobre o filme "Robin Hood":

Viviana Ferreira
Robin Hood Por Viviana Ferreira
| Data: 21/09/2010

O francês Robert Bresson esvaziava a ação cinematográfica por inserções metafísicas na imagem-montagem. O diretor inglês Ridley Scott, em Robin Hood (Robin Hood; 2010) faz um processo diferente: o vazio da ação é obtido pelo acúmulo reiterativo de ações cênicas que vão perdendo seu significado original. O formalismo intelectual de Bresson é substituído pelo formalismo industrial a que cada vez mais se entrega Ridley Scott; no lugar da imagem que medita no vazio, a imagem que faz círculos concêntricos no vazio. Robin Hood rodopia na cabeça do espectador e pretende enganá-lo bem: desde o deslumbrante Os duelistas (1977), sabe-se que Ridley é um prestidigitador da imagem cinematográfica; o problema é que sua prestidigitação se vem tornando oca e mofada apesar da constante opulência visual de que ele reveste seus filmes.

 

A lenda de Robin Hood foi imprimida cinematograficamente em As aventuras de Robin Hood (1938), de Michael Curtiz e William Keightley e interpretado por Errol Flynn e Olivia de Havilland; este Robin Hood de Ridley busca os fatos que originaram a lenda, como foi que se construiu a personagem do bondoso fora-da-lei que tirava dos ricos para favorecer os pobres. Filmando o já visto e o muito conhecido, Ridley não tem o estofo de transmitir uma intensidade nova a velhos temas, como fez outro diretor inglês, John Boorman, Excalibur (1981), também uma realização voltada para a magia visual, mas onde a criatividade da opulência cinematográfica era muitas vezes mais densa e forte. Os lugares-comuns de encenação e episódios se acavalam ao longo de Robin Hood. E os desempenhos dos atores não ajudam muito. Russell Crowe, já habitualmente um intérprete limitado, está mais sofrível do que nunca. Cate Blanchett não deslustra, mas aqui e ali seu tom é incômodo e derrapante. Restam as caracterizações curiosas de Max Von Sydow como um velho guerreiro cego assassinado covardemente pelo sinistro Godfrey (interpretado por Mark Strong) e William Hurt como um empostadamente digno servidor do Reino.