Crítica sobre o filme "Speed Racer":

Wally Soares
Speed Racer Por Wally Soares
| Data: 24/09/2008

Ao início de Speed Racer, é fácil imaginar que estamos mesmo vendo o novo filme dos visionários cineastas de Matrix, a série que revolucionou o cinema e o gênero. Contando com um visual de encher os olhos, é fácil impressionar-se logo e, em um início inspirado, testemunhamos uma cena bem texturada contando com montagem essêncial. Primorosa, é usada como ferramenta para narrar histórias passadas dos personagens, oscilando entre duas corridas importantes. A compilação é memorável, exemplar e, mais importante, coerente. Ao passo que somos entretidos, porém, logo começamos a perceber o exagero e a incansável duração daquele mesmo método contínuo. Se desgasta, nunca descansando e se revela vistoso demais para o próprio bem. O filme em sí pode ser resumido assim. A impressão ao início é de deslumbro, ao fim, de cansaço. Mesmo que não seja um filme com aspectos deploráveis, é triste constatar toda a fragilidade do longa que, apoiado demais em sua parte técnica, no charme do elenco e na textura “pop”, perde em substância, ignorando que cinema não é feito apenas de pirotécnicas, mas de imaginação que vai além do que os olhos enxergam. É nesse ponto que definitivamente que não se trata mais da dupla brilhante de cineastas.

É admirável, no entanto, todo o clima do filme, que te insere de uma forma exemplar naquele mundo surreal e chamativo. Nesse sentido, os Wachowski ainda sabem o que fazem em questões de imaginação visual. Os efeitos especiais são fantásticos e a direção de arte, perfeita. Isso sem contar os efeitos sonoros impecáveis, a já mencionada montagem super eficiente e, claro, mais uma trilha muito boa de Michael Giaccino, mesmo que não tão onipressente quanto em outras vezes. Todos esses fatores técnicos trabalham a favor do filme ao fim, que possui muita energia. Infelizmente sentimos falta de mais. A todo momento me via procurando por “aquele” elemento. Mas não encontrava. Ao contrário, me via cansando aos poucos do exagero visual digitalizado, visto que a duração longa do filme simplesmente não colabora nesse aspecto. Temos deslumbro visual, energia, vivacidade, um pouco de magia cinematográfica, mas não muito recheio. Mesmo quando o filme apresentava alma e coração tratando de temas familiares, ele sentia frio e artificial demais quando mais necessitava se aproximar da audiência.

 

O filme é uma constante batalha entre o artificial e o genuíno. Felizmente tivemos um bom elenco para acabar um pouco com a mesmice do artificial. A começar, claro, pelo ótimo Emile Hirsch, cheio de charme e carisma, consegue fazer com que seu personagem se mantém cool mesmo com os diálogos tão desastrosos (alias, é um dos pontos mais agravantes do filme tais diálogos genéricos tolos). A ajuda dos coadjuvantes Ricci, Sarandon e Goodman é bastante proveitosa. Quem falha mesmo é Matthew Fox, decepcionando em atuação fria, sem emoção ou muita expressão. Mesmo assim, o elenco é chave para nos mostrar que não, o trabalho não é toda aquela artificialidade tremenda. Mas como já disse, os valores familiares conseguem oferecer uma injeção de sentimento no digital. Toda a trama sobre união familiar e o elo sempre necessário funciona bem, pesando contra o lado “sério” do longa, que ousa fazer um relato (e uma alerta) sobre a corrupção, em uma crítica às grandes corporações. Funciona também, mas é incômodo quando o filme precisa definir seu público alvo. Em um filme supostamente “família”, a experiência visual encantará sem dúvida, mas dividirá os interesses dependendo da idade. Enquanto os menores irão com certeza oferecer desinteresse ao fator sério (que chega a ser até cansativo) os adultos podem se irritar com a já mencionada tolice dos diálogos e as piadas em vezes bobas demais. Mas o humor diverte com momentos engraçados, ainda ajudado pela excelente dupla de macaco e Paulie Litt, ótimos!

 

No fim, é inegável como os diretores (e também roteiristas) flexionam tudo apenas para beneficiar tentativas de estilo e cenas de ação, chegando até a nos subestimar um pouco, com inúmeros furos de roteiro. Então sugiro o seguinte: veja “Speed Racer” pela experiência visual, pop e sonora. É bom cinema. Mas não é cinema necessário. O filme apenas abre mais portas para novas evoluções técnicas. Não mecheu comigo, ou me tocou. Mas ao menos a viagem diverte. As escorregadas podem existir mas ao menos existe satisfação à cada equívoco. Um trabalho, digamos, onde defeitos e acertos eqüilibram-se. Funciona, mas sem um pingo de dúvida sequer, com um pouco mais de esforço e menos exagero, teríamos um filme bem superior. É uma louca montanha-russa de um filme, como todos os efeitos colaterais mas também a empolgação