Há tempos que estão tentando fazer isso: matar o cinema. E desta vez quase conseguiram. Speed Racer é muito mais videogame do que cinema propriamente dito (a prova disso é que a Warner está entrando com tudo no mercado de games, com a versão deste personagem).
Não sei bem dizer o que achei. Sem dúvida, como narrativa, tem defeitos: de vez em quando tudo pára, afim de ouvirmos lições de moral sobre a importância da família, ou então para agüentarmos as piadas do irmão gordinho e seu chimpanzé de estimação - ambos com fome insaciável. Ou mesmo para o interlúdio romântico com a namorada, totalmente dispensável. Há uma preocupação irritante em manter a censura em ‘PG‘ (Parental Guidance), ou seja, acessível a crianças; assim, nunca vemos direito as cenas de violência, já que é tudo desenho animado, ou seja, animação. E, estranhamente, o rapaz Emile Hirsch, tão promissor no filme Na Natureza Selvagem, perde sua grande chance de estrelato. Ele não está no filme: é neutro, passivo, amorfo, sem graça. Errou no tom e foi engolido pela produção.
Naturalmente, esta versão do famoso desenho animado japonês de TV, de 1967, “Mahha GoGoGo”, que era o favorito dos meninos da época (atenção: este é um filme só para meninos, menina não deve entrar), foi transposta pelos irmãos Andy e Larry Warshowski, que realizaram a trilogia Matrix, de forma extremamente fiel. Todo o visual é semelhante ao desenho, porém expandido. Foi tudo filmado diante de tela verde, e posteriormente foram aplicados os efeitos multicoloridos e extremamente estilizados, nunca vistos antes numa tela grande (o filme passa, nos EUA, na gigante tela ‘Imax’). Ou seja, tudo é um delírio, uma verdadeira loucura de cores e formas, onde você acaba mergulhado na féerie, passando além do kitsch, e chegando não se sabe bem onde.
O começo é bem impressionante. Speed (Emile Hirsch) vem de uma família de corredores de automóveis; o pai (John Goodman) constrói carros, e o irmão foi um famoso corredor, que aparentemente morreu num acidente mal explicado, e que pode ou não ser agora o Corredor X (Matthew Fox, de Lost). A luta básica é entre o big business, que tenta controlar as grandes corridas, e o pequeno e honesto independente, que faz tudo para combatê-los. O curioso é que todas as corridas são realizadas numa espécie de autorama futurista, nada realista.
É assumidamente animação, com os carros realizando proezas só possíveis em filmes desse tipo (explosões, carros jogados fora da estrada e caindo em princípios, coisas assim). Mas ninguém aparece morrendo, não há sangue. Ou seja, como animação, fica difícil se identificar com alguém, torcer pelo herói, já que tudo é tão fantasioso, tão infantilizado.
Acho que o maior mérito do Speed-filme é ser diferente, procurar uma visualização de cartoon, tentando unir atores a desenho. Com resultado irregular, por vezes espetacular, por vezes inconvincente. Não sei até que ponto os fãs do desenho irão embarcar nesta aventura (a julgar pela pré-estréia, eles tiveram muitas reservas), mas a mim não desagradou. Nem que seja pela ousadia da originalidade.