Crítica sobre o filme "Star Trek":

Wally Soares
Star Trek Por Wally Soares
| Data: 04/11/2009

Star Trek é um nome clássico, datando desde 1966 quando estreou a série de grande sucesso que durou três anos e hoje atinge status de cult. Foi só em 1977, com o sucesso inesperado de Star Wars, que acreditaram na força dos personagens de Trek para o cinema. E, então, em 1979 a cine-série de Star Trek teve início. A primeira fase, com seis filmes, durou até 1991. Três anos depois, voltou com novos personagens, durando até 2002, totalizando dez filmes no total para a série. O novo filme não é uma refilmagem, como talvez seu nome indicaria, mas uma "prequel", ao narrar a história dos personagens icônicos que deram força à primeira fase da franquia. Uma escolha acertada por parte dos roteiristas, que agora podem iniciar uma franquia própria, que servirá tão somente como homenagem e lembrança dos Trekkers de ontem. O filme conta a história intergaláctica dos personagens que já conhecemos antes deles ingressarem na Enterprise (a famosa nave), passando pela academia até sua primeira aventura. O destaque, como não poderia deixar de ser, é a relação entre James T. Kirk e Spock, e como de inimigos construíram uma derradeira e genuína amizade. Mas isto é para o próximo capítulo. Por ora, nos deliciamos com uma introdução fantástica à uma saga memorável e emblemática por seus personagens.

 

A cena inicial deste Star Trek é por si só impecável. O termo "ópera no espaço" ganha força bruta numa sequência de ação e emoção grandiosamente afetiva. Durante uma guerra feroz com uma nave alienígena, James T. Kirk nasce em meio à sacrifício. O diretor J.J. Abrams pavimenta, com esta sequência, o furor do filme. E, até o término, o longa nunca perde o fôlego. Culpa de um roteiro esperto e inteligente, que acredita na força de seus personagens e a estende até o último segundo. Não só isso, mas acredita na força do drama em prol da ação. Portanto, Star Trek pode ser recheado de belas cenas de ação, mas este não é seu motriz, ou sua força. Mas, sim, a constante originalidade com a qual mantém uma narrativa fluída e inventiva. É fácil nos identificarmos pela história e mais ainda criar laços com os personagens, pelo simples motivo de serem tão bem recalcados em emoções humanas fortes. O exemplo mais bruto sendo Spock, um homem que nasceu da união de uma raça alienígena (os Vulcan) com uma humana. Seu amor pela mãe e o desdém pela sua natureza quase-humana o destrói. E esta densidade especial com o qual é construído ressoa.

 

Alias, ressonância é um atributo que o longa possui de sobra grande parte graças ao seu elenco hábil. O diretor, inclusive, exigiu que os créditos finais listasse o elenco em ordem alfabética, valorizando o quanto é um filme de elenco. Então, apesar de Chris Pine estar estupendo como o arrogante James Kirk e Zachary Quinto capturar a essência de Spock com digna perfeição, eles não são os únicos memoráveis. Zoe Saldana acerta como Uhura, Karl Urban é o McCoy ideal, John Cho faz um memorável Sulu e Anton Yelchin arrebenta como Chekov. Não esquecendo, claro, do hilário Simon Pegg, do irreconhecível Eric Bana e da participação gloriosa de Leonard Nimoy (o eterno Spock) numa virada genial do roteiro. Sou fascinado por filmes com viagem no tempo (e Abrams também, levando em conta Lost), e a cine-série já tocou no tema com dois episódios memoráveis. Mas nenhum com a magnitude e a emoção da delineada por este roteiro. E , vale dizer, conduzida com bravura por Abrams.

 

Em outras palavras, Star Trek é um belo filme de ficção-científica e, ouso dizer, meu preferido de todos os filmes da franquia. A Ira de Khan, A Terra Desconhecida e Primeiro Contato são ótimos, mas existe um elemento de tamanha eloquência neste capítulo que até então faltava aos filmes da série. Não é a parte técnica, que impressiona pelos efeitos intimidantes, a fotografia magistral e os efeitos sonoros arrepiantes, mas a solidez do roteiro e a segurança da direção. É um projeto conquistador. Então quando chega ao final você não importa que o filme seja, em si, uma preparação, não engatando em nenhuma aventura realmente épica. Mas, como uma preparação, ele é um acerto totalmente bem sucedido. E inteligente, vale dizer. A sacada da viagem no tempo será oportuno para os roteiristas, que poderão ter liberdade daqui para frente por agora poderem seguir uma realidade alternativa. Então qualquer conflito com a saga original não trará dor de cotovelo nos fãs. Alias, se depender das extensas e divertidas referências no filme à série original, os fãs ficarão é contentes.

 

Carregado ainda pela bela e tensa trilha de Michael Giacchino (que irritou muitos por ter deixado o tema original de fora – mas que se encontra nos créditos finais), o filme é aquele blockbuster completo. Entretenimento feroz cheio de humor, nostalgia, criatividade e personagens divertidos. Você o termina sabendo que acaba de presenciar algo digno e memorável, e já ansioso para os confins aos quais a série te levará no futuro. E, nas mãos de Abrams, estou disposto a acompanhar estes personagens à qualquer canto do universo.