Jack White, o músico de “The White stripes”, usa de martelo e pregos e vai aplicando-os sobre um pedaço de madeira, vale-se ainda duma corda de aço e duma garrafa, e quando percebemos, ali está uma guitarra “feita em casa”; algumas outras geringonças permitem a amplificação do som. Esta é uma cena emblemática do documentário A todo volume (It might get loud; 2008), dirigido por Davis Guggenheim: desmistificar a arte e os objetos artísticos mostrar como a simplicidade permite a intensidade (a todo volume: numa outra cena, um músico contrapõe um som complexo, difícil a um som mais direto, simples, que por isso mesmo leva a um calor sonoro muitas vezes mais apaixonante).
Guggenheim reuniu em seu documentário três astros do rock’n’roll (pertencentes a gerações diferentes) para dar uma visão das transformações estéticas e sociais experimentadas pelo gênero; entre eles, um ponto essencial, o gosto pela guitarra. Jimmy Page (do Led Zeppelin) é um esteta da curtição artística; quando faz suas simulações ao ouvir em êxtase a música “Rumble”, de Link Wray, levando o espectador a experimentar com ele a acuidade das vibrações em crescendo do amplificador na segunda parte da composição, a cena apaixona por aquilo que possa ter em simplicidade e despojamento na interpretação artística. Reunindo The Edge (da banda U2), Page e White, Guggenheim visita de certa maneira o momento em que a juventude tomou o poder pelo volume; e o rock’n’roll, ponto desta controvérsia, é, para além de um gênero musical já estabelecido, um signo das mudanças de costumes na sociedade desde os anos 50.
Bom de ver e ouvir, o documentário de Guggenheim é cinematograficamente engenhoso mesmo para o observador que não tenha afinidade com as figuras retratadas. Elaborando uma montagem que flui e se articula nas linhas narrativas que propõe, o filme traz também imagens de arquivo, shows muito antigos, dos tempos da juventude dos hoje madurões “rock stars”.