Crítica sobre o filme "Tropa de Elite 2":

Eron Duarte Fagundes
Tropa de Elite 2 Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 19/02/2011

Tropa de elite 2 (2010), de José Padilha, explica algumas coisas que pareceram ambíguas em Tropa de elite (2007); este primeiro filme foi acusado de fascista porque a truculência do policial Nascimento se incrustava na própria linguagem cinematográfica de maneira lasciva ou duvidosa. Padilha defendia-se referindo um filme seu não tão visto, o documentário Ônibus 174, retrato agudo duma situação gerada pela miséria e pela falta de perspectiva dum indivíduo. Depois do primeiro Tropa de elite, Padilha chegou a rodar o documentário Garapa (2009), áspero documentário que elegia a fome como personagem trágica num Nordeste eternamente amargurado. Em Tropa de elite 2 o cineasta volta a usar as armas do policial americano de grande público (de uma certa maneira, mesmo em Ônibus 174 já havia este acariciamento da tensão do espectador, como se o documentário tivesse um pouco do filme policial americano) para expurgar a consciência pesada do policial Nascimento e assim justificar o que poderia haver de alienante no primeiro filme.

Na cena inicial, sob a voz que narra (o próprio protagonista), o policial Nascimento sofre um atentado: observamos em imagens alternadas os passos do policial e dos bandidos (policiais corruptos) que o irão alvejar, a saída do policial para o estacionamento, alguém que informa os bandidos de que Nascimento está entrando no estacionamento, a entrada do policial no carro, o carro saindo do estacionamento, a breve perseguição automobilística, o carro de Nascimento fechado pelo carro dos criminosos, as armas disparadas impiedosamente. Suspende-se a cena e cai-se numa ação retrospectiva, devendo o espectador guardar sua curiosidade para o final de como se deu o desfecho da cena.

 

O que se vê ao longo de Tropa de elite 2 é a desilusão de Nascimento para com suas próprias ações. E sobra tanto para a corrupção policial quanto para a corrupção política que é no fundo o que financia a corrupção policial e a da própria sociedade. Dentro do mundo do cinema de grande espetáculo, Padilha escolheu suas formas (às vezes problemáticas, às vezes antagônicas dentro de seu cinema) de captar certos movimentos que se organizam a partir da própria desorganização social dentro da sociedade brasileira.