Crítica sobre o filme "X-Men Origens: Wolverine":

Wally Soares
X-Men Origens: Wolverine Por Wally Soares
| Data: 06/08/2009

O que fazia os filmes da série de "X-Men" transcender do mero espetáculo blockbuster era o cuidado com o qual os roteiros eram planejados. Enquanto o primeiro nos introduziu muito bem à um mundo interessante (e até sombrio), o segundo alçou a ação aos ares e o drama pessoal de seus personagens à outros níveis. Até mesmo o criticado terceiro, que perdeu em genialidade com a direção de Brett Ratner, trazia um roteiro admirável em diversos aspectos. Foi, de fato, uma franquia respeitável. E só continuará respeitável se o novo filme não for considerado como parte dela. X-Men Origens – Wolverine é o oposto do termo "transcender", transformando um bom personagem em um brutamonte artificial e burocraticamente desenhado. Não se deixem enganar, o filme não adiciona em nada a série e não justifica sua existência de maneira alguma, ao criar uma origem para o herói que soa exageradamente fútil, tendo em vista a forma misteriosamente interessante com o qual os roteiros dos dois primeiros filmes o havia criado visando teu passado.

Dirigido pelo talentoso Gavin Hood (O Suspeito), que assinou a direção do ótimo vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, "Infância Roubada", o filme inicia-se revigorante. Com créditos iniciais bem compostos e eficientes ao introduzir o enredo (e os personagens) de forma adequada, tudo inicialmente funciona. Alias, o forte do filme surge com as atuações dignas apresentadas por Hugh Jackman (Austrália) e Liev Schreiber (O Amor nos Tempos do Cólera), que conseguem bolar boa química ao mesmo tempo que trazem autenticidade aos personagens. Principalmente Schreiber, que acerta no tom de seu Victor (que mais tarde se transformaria no Dente de Sabre). Quando o filme foca nos dois, e a ação proveniente de seus duelos, ele se torna uma espécie de filme-B de ação divertido. Infelizmente, os elogios precisam parar por aqui. Hood até tenta transformar tudo em um clima descomprometido e enraizado nos moldes dos filmes de ação brucutu dos anos 80. E talvez se o roteiro fosse igualmente descompromissado, a sessão teria sido mais proveitosa. Infelizmente, o filme se leva muito a sério, e o roteiro medíocre assusta pelas escolhas que beiram o vergonhoso. Como o personagem muito mal concebido que é bem interpretado por Danny Huston (30 Dias de Noite) e a ridícula participação de Ryan Reynolds (Três Vezes Amor), num personagem desastroso.

 

O filme felizmente nunca perde o ritmo – mas o desinteresse é um infortúnio, e a fraqueza fatal de seu roteiro o faz perder seu equilíbrio. Roteirizado por David Benioff (O Caçador de Pipas) e Skip Woods (Hitman – Assassino 47), o script é uma verdadeira bagunça. Um amontoado de clichês do gênero, desculpas para grandes efeitos e pura fórmula que irrita pela constante irrelevância. Chega a ser desgastante. E o filme só não afunda por contar com uma direção que, mesmo totalmente decepcionante, consegue transformar os erros de seu roteiro (ocasionalmente) em meros detalhes, num plano maior de entretenimento gratuito que funciona da mesma forma que fracassa. É tudo dependente do olhar que será lançado sobre ele. Estaria o espectador simplesmente clamando por ação descerebrada, ou existem anseios por uma narrativa mais resolvida? Se você se encaixa na primeira opção, X-Men Origens – Wolverine funciona como divertimento fácil. Caso contrário, é cinema altamente falho e artificial.

 

E é decepcionante assistir à queda livre de um personagem que poderia ter rendido tanto, mas que se viu sendo submetido à uma desgastantemente frívola transformação nas mãos de roteiristas que não parecem entender o material (e os personagens) que tinham. Hood, por sua vez, entendeu a banalidade do texto que possuía, e tentou extrair dele o melhor que pôde – ainda que a própria direção tenha suas inúmeras derrapadas. O clima de "filme-B" é oportuno, e esmiúça as ambições errôneas do roteiro (na maior parte). Mas isso não é o suficiente. Em síntese, o filme é um verdadeiro pomposo blockbuster. E é só isso. Nem um centímetro a mais. Com certeza não será este o filme do Wolverine que será lembrado, e não delongará até que esta fita de ação se torne num produto meramente descartável e esquecido. Agora, resta desejar que tenham mais sorte (e digo talento) com Magneto.