Crítica sobre o filme "Zumbilândia":

Wally Soares
Zumbilândia Por Wally Soares
| Data: 25/05/2010

Irmão confesso de Todo Mundo Quase Morto – o diretor, Ruben Fleischer, declarou ter se inspirado na película britânica de Edgar Wright – Zumbilândia é uma comédia das mais eficientes que subverte, como o filme de 2004, o conceito comumente utilizado em filmes de terror. A partir de um cenário pós-apocalíptico desolador, inicia-se uma história inspirada, leve e divertida, ancorada no bom humor e no charme de seu elenco. O importante a ressaltar com Zumbilândia é que se trata de uma diversão realmente descompromissada. Um entretenimento que não se esforça para se tornar nada além de uma simples boa comédia. Não existem pretensões maiores e, talvez por isso, a obra tenha sido tão eficiente no que propõe. Ao invés de tentar ser um filme que não é, investiu nos elementos com os quais sabia jogar. O resultado é uma pérola, um acerto em cheio para um gênero em constante fracasso.

 

O filme é narrado por Columbus (Jesse Eisenberg), um dos poucos sobreviventes de um mundo dominado por zumbis. Adolescente, Columbus não esconde seu medo e inexperiência, mas conseguiu sobreviver por ter criado 32 regras as quais se dedica sem hesitação. Tentando chegar à cidade de seus pais – esperando que eles estejam vivos – ele encontra Tallahassee (Woody Harrelson), um desequilibrado homem que não mede esforços na hora de matar qualquer coisa que entre em seu caminho. Ambos unem forças na busca por sobrevivência apenas para serem enganados por duas irmãs – Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) – que não confiam em ninguém. A contragosto, os quatro tornam-se dependentes um do outro ao passo que tentam extrair o melhor de um mundo devastado.

 

Conquistando logo nos primeiros minutos, Zumbilândia busca ilustrar, mediante a narração em off de Columbus, as principais regras que permitiram ao personagem sua sobrevivência. Extremamente engraçadas e inspiradas em sua concepção, as sequências habilmente nos inserem na realidade retratada e – principalmente – no clima irreverente proposto pela película. O envolvimento com o longa-metragem é ainda pontuado pela atuação de Jesse Eisenberg como Columbus, um ator que parece ter se especializado nesse tipo de personagem (curiosamente, porém, sempre almeja fugir do óbvio). O humor do filme atinge outras proporções quando o infalível Woody Harrelson entra em cena – e seu Tallahassee se diverte na desconstrução do estereótipo habitual (é notável, alias, os pequenos detalhes da construção de seu personagem, como o apego ao passado e sua obsessão em conseguir encontrar o último twinkie [espécie de bolinho recheado] do mundo).

 

O enredo simples começa a tomar forma mesmo com a entrada das personagens de Wichita e Little Rock, em desempenhos divertidos de Stone e Breslin, respectivamente. A relação dinâmica delas com os rapazes foge do óbvio e garante ao filme um clima bem mais original do que seria esperado. Existem certos lugares comuns que a obra vez o outra não evita, mas na maior do tempo o roteiro consegue fugir da mesmice – buscando o refresco em piadas consistentes. Válido afirmar, alias, que embora o filme se revele constantemente bobo diante de um humor declaradamente idiota, a película passa longe da estupidez e nunca subestima a audiência. Existe certa restrição que os autores empregam que evita que o filme evolua em cima de clichês. Curioso, alias, o quanto a história se desenvolve rapidamente. Com agilidade e dinamismo, o filme particularmente enxuto de 88 minutos nunca perde nossa atenção.

 

Um dos grandes méritos da película é a estética admirável elaborada por Fleischer – em sua estreia cinematográfica em longa-metragem. Empregando letreiros ao longo da narrativa que se camuflam ao ambiente da história, Fleischer divertidamente brinca com as 32 regras criadas pelo personagem Columbus. Competente também é o visual em si do mundo retratado, já que Fleischer busca manter o sentimento de desolação sem esquecer que está fazendo uma comédia. Os momentos de descontração dos personagens, alias, são os melhores. O destaque vai para a sensacional sequência em que os personagens destroem uma loja de artigos.

 

Zumbilândia, apesar de seu formato enxuto e simples, consegue surpreender inúmeras vezes. Quando Bill Murray surge interpretando a si mesmo (e parodiando a si mesmo, vale dizer), a obra atinge um nível de genialidade primoroso – e o destino do ator é particularmente inspirado. E, embora as razões que levam os personagens a um parque de diversão são discutíveis, o clímax que coloca os quatro batalhando inúmeros zumbis em meio às atrações é totalmente irresistível. Tanto pelo humor deslavado quanto pela dinâmica dos personagens em meio ao cenário dos mais atípicos. Em termos, zumbis em um parque de diversão é o que melhor sintetiza a natureza de Zumbilândia, um filme que joga o conceito de morte e apocalipse em um cenário de diversão e leveza, abordando o usualmente idiota com particular esperteza. Só não se divertirá aqui quem não souber brincar.