Pertencente à desprestigiada fase mexicana do realizador espanhol Luis Buñuel, em que os compromissos comerciais geralmente imperaram impedindo obras mais pessoais, O alucinado (El; 1953) nunca teve muito apreço crítico, mas é um dos preferidos do próprio cineasta que revelou uma conversação com Jacques Lacan na época do lançamento da fita em Paris em que o famoso psicanalista francês considerava a narrativa muito veraz.
Na verdade, o retrato do psicótico ciumento composto por Buñuel é apropriado para psicanalistas, cuja visão do mundo do cinema é sempre miúda e precária. Fotografado pelo habitual colaborador do diretor, Gabriel Figueroa, O alucinado conserva parte de seu interesse graças à segurança de filmar de Buñuel, que expõe o interior de um homem enciumado com alguma verossimilhança visual mas inegavelmente de maneira superficial e terrivelmente longe da profundidade e da criatividade de seu melhor cinema.
De qualquer maneira, em comparação com outra realização mexicana de Buñuel daquela época, Ensaio de um crime (1955), este O alucinado parece levemente superior.