Crítica sobre o filme "Coisas Belas e Sujas":

Eron Duarte Fagundes
Coisas Belas e Sujas Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 10/06/2004

O admirador do cineasta inglês Stephen Frears não terá, em Coisas belas e sujas (Dirty pretty things; 2002), motivo de apaixonar-se pela verdade de um filme, como ocorreu em O amor não tem sexo (1987). Mas ali estão os elementos característicos do cinema de Frears, sua impiedosa visão de mundo, sua capacidade de iluminar os sentimentos de suas personagens com uma aguda observação da miséria humana.

Como ocorria em Minha adorável lavanderia (1986), o primeiro sucesso de público do realizador, em seu novo filme a objetiva centra sua marcha em esmiuçar as ações boas e torpes dos mais variados imigrantes que cruzam um subúrbio de Londres. O protagonista é um recepcionista de hotel vindo da Nigéria, fugido de um crime; seu encontro com uma moça turca que ali trabalha e o contraponto oferecido pela vilania do administrador do hotel que na verdade trafica com órgãos humanos servem ao diretor para expor com crueza os conflitos humanos.

Talvez a realização se ressinta um pouco do distanciamento inglês de Frears, que em Ligações perigosas (1988) aparecia numa forma irônica e cerebral bastante mais depurada. Se o ator negro Chiwetel Ejiofor está bem e Sergi Lopez compõe o tipo cínico adequado, a estrela francesa Audrey Tatou, embora um pouco melhor do que nos outros filmes dela vistos por aqui, está longe de produzir interpretativamente tudo o que sua personagem requer.

Pesadas todas as reflexões, Coisas belas e sujas não deve destacar-se muito no cinema do ano, mas é algo acima da média e que merece ser visto, dada a extraordinária seriedade do cinema de Stephen Frears.