Crítica sobre o filme "Colateral":

Eron Duarte Fagundes
Colateral Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 25/10/2005

Depois de tantos anos queimando as pestanas numa tela de cinema, o espectador acaba por agastar-se com a mesmice do cinema americano, cada vez mais mergulhado em arcaicos truques narrativos para manter a atenção das platéias. E, constrangedoramente, estes velhos truques passam por coisa nova para toda uma geração que desconhece a história do cinema. É como se a desmemória fosse a arte de empurrar o cinema para diante.

Dois filmes lançados na mesma época nos cinemas, o policial Colateral (Collateral; 2003), dirigido por Michael Mann como um sub-Martin Scorsese, e a comédia negra Matadores de velhinha (The ladykillers; 2004), a nova realização dos irmãos Joel e Ethan Coen, servem a uma meditação sobre esta falta de inspiração que assola a Hollywood atual. São dois filmes que em alguns de seus aspectos pretendem ser algo mais do que um divertimento efêmero, utilizam alguns estratagemas para chegar a este objetivo, mas fazem tanta concessão às exigências comerciais duma produção made in U.S.A. que só uma absoluta miopia pode enxergar neles algo além do que são: futilidades bem feitas.

Mann é um artesão hábil. Valendo-se disto, rodou uma narrativa socialmente conseqüente, O informante (1999), que acima de tudo mantinha uma instabilidade da câmara cheia de frescor. Seu Colateral é um retrocesso. O formato policial é quadradão; é bem verdade que um certo surrealismo da filmagem se apresenta aqui e ali (um coiote andando por ruas vazias e escuras), mas os clichês do filme de ação à americana imperam. O astro Tom Cruise está em seu papel: sua raiva interpretativa revela seus dotes de estrela. O ator negro Jamie Fox está melhor que Cruise, mas ambos formam um bom par de intérpretes. O bem-feito de Colateral conquista uma certa atenção do observador: mas é uma atenção vazia de significados, sem profundidade.

Tantos anos depois dos primeiros olhares para uma tela de cinema ver filmes pode tornar-se uma atividade desgastante e repetitiva quando damos com brincadeiras cinematográficas já vistas.