É mais um filme impecável de Anthony Minghella e sua equipe, que deve ser hoje em dia a melhor do mundo: o compositor Gabriel Yared, o diretor de arte Dante Ferretti, o fotógrafo John Seale, a figurinista Ann Roth. Todos fazem trabalhos excepcionais nesta super-produção de 80 milhões da Miramax, que poderia ser páreo para O Senhor dos Anéis nas categorias técnicas do Oscar. Mas era difícil levar como Melhor Filme simplesmente porque é uma história de amor fria, que não provoca lágrimas, nem suficiente emoção.
É um bom filme, muito bem feito, muito bem interpretado, um pouco triste, um pouco amargo (afinal fala sobre os absurdos da Guerra Civil Americana, principalmente o que sofreram os civis e os soldados que tentavam voltar para casa, na mão de milícias que se diziam justiceiras). Com alguns momentos espetaculares. Dignos de serem vistos e prestigiados.
Não li o livro de Charles Frazier, que deu origem ao filme e foi adaptado por Minghella (ele esteve no Brasil lançando o filme anterior, Mr. Ripley e deixou uma excelente impressão, é das pessoas mais sensíveis e gentis que conheci). Mas não tinha a aparência de resultar numa fita comercial e fácil.
Passa-se numa cidade da Carolina do Sul chamada Montanha Gelada (as locações, por economia, foram na Transilvânia, Romênia) onde uma jovem bela filha (Nicole Kidman) de um pregador (Donald Sutherland) se apaixona por um rapaz local (Jude Law). Quando vem a guerra, ele vai lutar e só pensa em voltar para ela, que fica na miséria e acaba sendo salva pela ajuda de uma mulher sem destino, que vira sua empregada (Renée Zellweger). Enquanto isso, Jude passa pelo inferno, escapando da morte várias vezes, encontrando figuras bizarras no caminho, um pregador desonesto (Philip Seymour Hoffman), uma benzedeira (Eileen Atkins), uma jovem viúva que lhe oferece cama (Natalie Portman), um traidor (Giovanni Ribisi). Sem contar algumas batalhas (numa delas, os nortistas provocam uma explosão que cava um enorme buraco, mas eles é que acabam presos nessa ratoeira).
Ou seja, é um grande épico romântico, meio Dr. Jivago, onde o clímax não é o reencontro do casal (que sucede vinte minutos antes do final). E o prazer é se ver um elenco fotogênico e bonito (não há dúvida que faz bem aos olhos contemplar Jude e Nicole, certamente o casal mais bonito e competente do ano). Numa história bem contada. Só não tenho certeza se queria ouvi-la ou se ela acrescenta alguma coisa, que já não sabíamos sobre a natureza humana ou a passagem inevitável do tempo. De qualquer forma, não é um fracasso, o que já é muito. Mas também não é o grande filme que se esperava.